[CRÍTICA]: SALTO | SALTO



Acabo de ouvir o primeiro álbum dos Salto!, homónimo, e imagino os rapazes do grupo a brincar e a dizer “Enganámos-te bem!” de língua de fora. De uma profundidade conceptual e um leque de interesses e gosto abrangente, os Salto! demonstram ter a capacidade de se articular por vários géneros – vindos de um curso dedicado mesmo ao áudio e à música, são exemplo de que talvez estudar compense - e a ideia do género que melhor os identifica.

O álbum abre com o primeiro single "Deixar Cair", e parece deitar na mesa os recursos fulcrais desta dupla da Maia: acordes e riffs constantes, repetitivos e definidores de tom, acompanhadas lado a lado com uma entusiástica corrente electro pop. Apesar de canções onde o grupo parece ter amainado em maré baixa, num resort, é descanso de pouca dura. O álbum tem um ritmo que é assinatura do grupo. Em "Por Ti Demais" e "O Teu Par", o ritmo acelera, mas não é dado a cansaços. Dado ao baloiçar de quadris e cabeças, mas não a loucuras. A letra entrega-se a conflitos, mas simples, caindo no quotidiano e naquela resignação daquele que aceita que esses mesmos são inevitáveis.

Desde as simples diferenças de personalidade e opinião até ao maroto convencer de um parceiro para dançar, os Salto! lembram um pouco uma versão um pouco menos geek dos Chromeo, especialmente na utilização de tons eletrónicos no instrumental "Arcade". Nostálgico? Talvez alguém erga o sobrolho e pensar que isto é apenas mais uma leva de inspiração hipster, mas de tal não se trata, pois essa tendência limitaria a banda aos tons de 8 bits que têm inundado a cena musical recente. À primeira escuta, não se nega a incerteza durante as primeiras seis canções de que este álbum acabará por ser “mais um”, que embora de frescura empolgada, dançável e em bom português, é só para pôr os óculos de sol e pôr no leitor do carro a caminho da praia.

É aí que "Intro [Saber Ser]" aparece e surpreende, ainda que com a audível e experiente presença de New Max, dos Expensive Soul, na cabine. A partir daí, qualquer ideia da identidade dos Salto! é atacada por um safanão de dúvida quando se ouvem tons de R&B, experimentalismo indie ["888:88" e "Sem 100", tendo este último até um final a roçar no dubstep], rock britânico ["Saber Ser" e "Coração Bate Fora"] e pop a que estamos habituados dos Foster the People e Hot Chip ["Canção Diagonal"].

Salto!, ambos o álbum e a banda até agora, têm com certeza uma nota bastante positiva. Mas um bom começo pode levar à extenuação em trabalhos futuros. As expectativas depois de um trabalho destes são bastante altas. Ainda assim, esta surpreendente reviravolta poderá ter sido propositada, ou talvez não – depois de uma fase de hábitos é perfeitamente normal uma mudança de ares – mas mostra o potencial que este duo [agora tripla?] tem e quantas cartas podem dar. E uma dica: são muitas. Desde que não se deixem cair.


01. Deixar Cair
02. Poema de Ninguém
03. Por Ti Demais
04. Não Vês Futebol
05. O Teu Par
06. Arcade
07. Intro (Saber Ser)
08. Saber Ser
09. Sem 100
10. 888:88
11. Coração Bate Fora
12. Canção Diagonal

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Nota: 8/10
Crítica por: Carolina Rocha
Banda: Salto!
Álbum: Salto

1 comentários:

Joana disse...

E enganaram-te bem porque...?

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