Tratando-se de intrépidos pioneiros musicais, cada um de uma geração distinta, seria inevitável que a combinação de Lou Reed com os Metallica desse origem a algo desconcertantemente diferente e excitante – quer a nível visceral quer a nível cerebral. Tamanha aventura pode, finalmente, ser ouvida em «Lulu», o álbum que editam em conjunto, no próximo dia 31 de Outubro.
Para encontrar a génese deste projecto é preciso viajar até Berlim e à produção teatral de «Lulu Plays», do autor expressionista alemão, Frank Wedkind, na qual Reed participou. Depois, surgiu o encontro, em palco, quando Lou Reed e os Metallica actuaram juntos, em 2009, no concerto do Rock and Roll Hall of Fame. Como Reed referiu, «naquele momento, percebemos que tínhamos sido feitos uns para os outros».
Rei do avant-rock de Nova Iorque, com os inesquecíveis e incontornáveis Velvet Underground, Lou Reed foi o responsável pela criação de uma música inovadora e iconoclasta – até que, em 1972, atingiu um improvável sucesso pop, com «Walk On The Wild Side». Foi de forma admiravelmente perversa que reagiu a este súbito desenvolvimento, editando um conjunto de álbuns a solo diversos e desafiantes, do macabro e monumental «Berlin» ao sedutor e subtil «Coney Island Baby», do abrasivo «Metal Machine Music» ao marco punk que é «Street Hassle». Mais recentemente, a sua constante vocação literária tornou-se ainda mais entusiasmante, em magníficos registos como «New York», «Magic And Loss» ou «The Raven». Com frequência, o seu grande objectivo tem passado por cravar o espírito de Burroughs, Selby e Poe em apenas três ou quatro acordes, abraçando as vísceras e as estrelas, fundindo o lixo e o luxo. «Tive sempre esperança que a inteligência que, outrora, pertenceu à literatura e ao cinema se pudesse estender ao rock», chegou a referir. «Se calhar, estava errado». Se calhar, isto vem provar que, afinal, estava certo.
Os Metallica, a mais bem-sucedida banda de sempre vinda do hard rock (com mais de 100 milhões de álbuns vendidos), nasceram na Califórnia, em 1981. Sem qualquer exagero: eles redefiniram o rock. Como Reed, nas suas letras, nunca temeram abordar temas como a alienação, o medo, a morte. Musicalmente, expandiram as fronteiras do metal, utilizando a velocidade e o volume não só para arrebatar os seus ouvintes mas também para elevar as estruturas das suas canções, conduzindo a sua sonoridade a territórios completamente novos. Através de uma destemida profundidade e com impressionante grandeza, revitalizaram o heavy-rock e conduziram-no à estratosfera. Premiados com nove Grammys, o legado dos Metallicaencontra-se espraiado por álbuns tão seminais e épicos como «Ride The Lightning», «Master Of Puppets» ou o recente «Death Magnetic», editado em 2008.
Tudo se pode esperar desta união. Mas desenganem-se os fãs de uns e de outros que aqui encontram um seguimento do que vem sendo as carreiras tanto de Lou Reed como dos Metallica. Em 'Lulu' surgiu um som novo.
[+]Info: Universal Music
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