[REPORTAGEM]: Marés Vivas (2º Dia) | Cabedelo | 15 Julho 2011



Segundo dia do festival: mais música portuguesa, menos reggae, mas mais entrega ao rock e à electrónica. À primeira vista, encontram-se menos pessoas no recinto (não existem filas enormes para entrar e as pessoas agrupam-se ordeiramente – a organização aqui parece-nos de parabéns) e a culpa disto também pode ser do vento frio. Quem não veio agasalhado corre o risco de se constipar com a nortada. E enquanto alguns andam entretidos nos comes e bebes e inventam coreografias inovadoras para ganhar certos e determinados prémios, outros guardam lugar no palco abrigado. Que um segundo dia de festival é sempre um segundo dia de festival e as pernas começam a acusar desgaste. Ao caminharmos por entre a multidão não deixamos de reparar no chão incrivelmente limpo: por aqui não existem copos ou papéis espalhados e a iniciativa da reciclagem tem vindo a ganhar adeptos a olhos vistos – basta reparar na fila que se forma para entregar copos e garrafas de plástico. Mas adiante que é de música que vive um festival também ecológico.

À hora marcada, o duo Mendes e João Só marcam presença no Palco Moche. E vão avisando que abrir um festival tem que se lhe diga e por isso pensaram muito bem no alinhamento. Arriscamos a dizer que levaram consigo um público fiel: uns quantos jovens que não largaram as grades e cantaram todas as músicas com igual devoção. Até as versões. Vocês sabem lá fez o favor de encantar os mais saudosistas e deliciar os mais novos através de uma coreografia curiosa. O baterista aproveitou para fumar o seu cigarro nas calmas enquanto João Só estalava os dedos. Para o final estava guardado um trunfo precioso: Não entres nesse comboio. E foi ver a coisa arrebitar mesmo. O comboio formou-se, a dupla até se riu e o ambiente descontraído alargou-se a todos os presentes que não resistiram a acompanhar a letra.
Quanto aos Classificados muito poderia ser dito mas a entrada anunciada com uma gaita-de-foles fala por si: a tenda encheu em instantes. O vocalista desdobrou-se em agradecimentos (é verdade que não são estreantes neste festival) e o público respondeu em conformidade. Entre gritos de revolta e canções mais ou menos românticas houve momentos de apoteose artística quando Serafim Borges encetava os seus movimentos a convidar à dança e o público insistia em cantar com ele. Com Medo de Voar teve até direito a um karaoke muito sentido e a banda despediu-se sob uma chuva de aplausos difícil de conseguir num palco secundário. A participação de um membro dos Expensive Soul numa das músicas também ajudou à festa. Para o ano há mais?
Saltos e mais saltos e apostamos que a comida ainda andava às voltas quando os Expensive Soul subiram ao palco principal. Gente a correr de bifana e copo de cerveja na mão porque poucos foram os que resistiram à boa onda destes rapazes. E eles sentiram-se em casa, afinal Leça da Palmeira é já aqui ao lado e em Gaia está-se muito bem. Muitas palmas e gritinhos depois chega-nos o amor como por magia (O Amor é Mágico) e o público esmera-se o mais que consegue por entre tentativas de subir às cavalitas de alguém ou de esticar os braços até ao infinito. O alinhamento não traz surpresas a quem segue esta banda de perto (eles andam em digressão mas nunca cansam - nem sequer desistem de puxar por nós) e lá continuamos a saltar porque somos o melhor público de sempre e não podemos desiludir. E se a energia contagia, as pernas que parem de se queixar porque o que nós queremos é saltar. ‘Bora lá?

Estamos prestes a assistir ao concerto mais desconcertante do festival e nem damos conta. Pouca luz em cima do palco e Skin aparece para partir tudo sem pedir licença. Se não a conhecêssemos podíamos ficar de queixo caído mas esta mulher é um furacão e a explosão é coisa que lhe fica bem. Os Skunk Anansie são banda de culto de uns quantos admiradores fervorosos e motivo mais que suficiente para voltar ao Festival Marés Vivas neste segundo dia. Mesmo que já os tenhamos visto há alguns meses atrás, nos Coliseus. Yes, It’s Fucking Political - valha-nos Deus! – os males do mundo encalham todos na política – e deixem-nos lá amargar um bocadinho e rebentar em coros de aflição. Soube bem um começo assim. Estamos mais leves e, agora sim, podemos reparar decentemente nas asas brilhantes que lhe cobrem a figura e são enormes na sua imponência. Ainda assim não lhe fazem sombra, dizemos nós. À terceira música – já? – arrancam um suspiro colectivo ao público e todos se desdobram em cumplicidades. Secretly é um daqueles segredos arrancados a ferros da alma de cada um, venha quem vier, nunca estamos preparados para tamanho abandono. E eles nunca nos deram tréguas. Ora foram danças em fúria ou caprichos românticos difíceis de conter em baladas lamechas. Porque o amor está lá sempre, deixemo-nos contaminar. A reacção – à vista de todos ou mais pacata e metida para dentro – passa por estremecer a cada nota. Não dá para ficar indiferente às investidas de Skin. Foi um reavivar de memórias e quinze anos de canções a passar-nos pelos sentidos. E se nós somos espectaculares (Obrigada, Skin!), os Skunk Anansie são puro espectáculo.

A retina e os ouvidos ainda mal se tinham habituado ao adeus dos Skunk Anansie quando Moby enfrentou uma plateia generosa – quase 20 mil pessoas – e desejosa de o ouvir. A atenção foi toda para a orquestra que estava em cima do palco. A versatilidade de Moby pode assustar alguns mas revela-se uma mais-valia na maior parte das vezes. E parece que a pista de dança tomou de assalto as margens do rio Douro assim como a nostalgia dos primeiros álbuns. Quem não dançou ao som de Porcelain e se imaginou dentro de um filme com o mar a perder de vista? Houve tempo para tudo: agradecimentos, uma versão inacreditável como a Whole Lotta Love dos Led Zepplin e a melancolia de Natural Blues a puxar ao sentimento de Why Does My Heart Feel So Bad. Tudo isto foram trunfos ganhos numa noite que se quis leve e solta ao som de um DJ que dispensa apresentações e não precisa que o cataloguemos. É impossível, até. A cidade é bonita, o festival também. Só precisamos de dançar e mais nada: Moby ofereceu-nos uma discoteca de luzes e garra a rasgar o céu sem pedir nada em troca. Até amanhã camaradas festivaleiros, isto se o corpo aguentar. Aguenta, claro, que quem corre por gosto não cansa.


PALCO SUPER BOCK
Moby
Skunk Anansie
Expensive Soul

PALCO MOCHE
Classificados
Mendes e João Só
Kicko
Let There Be Rock
Goncalo Mendonça

REPORTAGEM SUPER BOCK SUPER ROCK 2011:
1º Dia (14 Julho 2011)
2º Dia (15 Julho 2011)
3º Dia (16 Julho 2011)

PALCO TMN



PALCO MOCHE



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Fotos: Carina Guilherme
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: PEV Entertainment
Local: Cabedelo, Vila Nova de Gaia
Data: 15 Julho 2011 (2º dia do festival)

1 comentários:

Anónimo disse...

Tirando o Paredes de Coura, infelizmente não há muito para contar no que a festivais diz respeito, no Norte do país. O Mares Vivas é uma excelente iniciativa. Mas acho que para o festivaleiro militante é virtualmente impossível estar com os pés no MV e não ter a cabeça no SBSR!!
Ainda assim MUITO evoluiu desde os tempos do festival no areinho de Oliveira do Douro, nos anos 90. Portanto, vamos ver como desenvolve este MV!!
Ah... e 1000 vezes este Mares Vivas do que qualquer Rock in Rio! Oh yeah ;)

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