[REPORTAGEM]: Antony and the Johnsons | Hipódromo Manuel Possolo | 25 de Julho de 2012



Para mim é sempre estranho ver um concerto de música electrónica num coliseu, tal como é uma experiência extemporânea ver uma orquestra, que não seja a da Guarda Nacional Republicana, a tocar num hipódromo. A verdade, é que pode funcionar, pois o relvado desafogado de pessoas e devidamente alinhado de cadeiras, permitiu uma vista desamparada para o palco no Hipódromo Manuel Possolo.

Antony Hegarty é uma diva e apareceu como tal, numa túnica esvoaçante, depois de toda a “banda” devidamente sentada, e entoando um booooaaaaa noiiiitteeeeeee casccaaaaaiiisss num registro barítono leggero em jeito de fado.

Este foi um espectáculo singelamente cenografado de luz e de cor, sendo a nota mais marcante o contraste entre a Sinfonieta de Lisboa, inteiramente vestida de branco, e Anthony, completamente de negro. Assim, decorreu um concerto agradável, sem grandes altos e baixos, notando-se apenas a evolução e o crescendo que foi construído até à música "Salt Silver Oxygen", alavancado pela secção de sopros da Sinfonieta, que encorpava cada vez mais as canções.

Como disse, o crescendo foi subtil até à "Salt Silver Oxygen", que permitiu um momento de viragem. Serviu como situação intimista de “passa a mensagem”, onde Anthony discursou sobre o planeta, a ecologia e a necessidade que o mundo tem de se reformular. Expressou a sua fé num mundo mais feminino que contraste com a actual visão patriarcal do mundo, mas com optimismo, pois a esperança é a última a morrer, e sem a qual, este mundo não vale a pena.

Durante o concerto, houve momentos altos como "You are my sister", "Thank you for your love", "Kiss my name", "I fell in love with a Dead Boy", sempre num tom suave e contido, como é a música de Anthony, e correspondendo ao que ele próprio disse, respondendo a um pedido de alguém do público - I don't “Shake the Devil” anymore - para seguir para o pico que foi o encore, quando voltou para tomar as rédeas do piano e cantou a solo "Hope there's someone". Foi a altura que conectou mais com o público, atrevendo-se a desafinar para bem de todos, de forma a criar um momento de empatia, e preparar a despedida que veio algumas músicas mais tarde, com muitas palmas e uma ovação do público em pé.


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Fotografia: Luis Martins
Texto: Jorge Matos
Agradecimentos: Everything is New
Festival: Cascais Music Festival
Banda: Antony & the Johnsons
Local: Hipódromo Manuel Possolo, Cascais
Data: 25 de julho de 2012

1 comentários:

Anónimo disse...

foi lindo, emotivo e para mim, um privilégio, ouvir este senhor! Apenas tocou uma hora, mas sai com uma sensação de satisfação plena! Obrigada!

IV

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