[REPORTAGEM]: Mariza | Hipódromo Manuel Possolo | 29 de Julho de 2012



O Hipódromo Manuel Possolo vestiu o seu melhor fato para receber Mariza, no último espetáculo do Cascais Music Festival.

O público chegou lentamente e em cima da hora – como, de resto, já tem sido habitual neste festival – e não faltaram as típicas tias de Cascais que aproveitaram o espetáculo para passear as suas últimas aquisições da época de saldos. Não faltaram também algumas caras conhecidas, e sendo esta uma região turística, muitas famílias estrangeiras que certamente aproveitaram a sua estadia em Cascais para ver de perto uma das vozes mais internacionais do nosso país.

Ainda assim, apenas um terço das cadeiras estavam vazias, quando por volta das 22h15 apagaram-se as luzes e deu-se início ao espetáculo. Um banho de luzes roxas (que já agora, devem ter sido o pesadelo de todos os fotógrafos que lá estiveram) banhava um palco que pedia uma visita do “Querido Mudei a Casa”. Apenas quatro faixas brancas suspensas no fundo decoravam o espaço, deixando a cargo da iluminação a responsabilidade de dinamizar o ambiente em torno da fadista, mas diga-se de passagem, não deram conta do recado.

Entraram em palco Diogo Clemente na guitarra acústica, José Freitas no baixo e por fim José Manuel Neto que dissipou pelo hipódromo o som melancólico da guitarra portuguesa. Eis que surge um imponente “Boa noite… solidão”, que dá nome à canção com que Mariza iniciou o concerto. Entrou de seguida em palco, com um penteado à estrela de rock e exibindo um bonito vestido roxo, da autoria de João Rôlo - devia ser para fazer o pandã com as luzes do palco.

Depois de “Boa Noite Solidão” e “Fado Vianhinha”, Mariza saúda o público e confessa que teve saudades de atuar em Cascais e sem perder tempo, retoma a atuação ao som de “As Meninas dos Meus Olhos” e “Já Me Deixou”, esta última com precursão de Vicky Marques.

O clássico “Barco Negro” foi muito bem recebido pelo público presente, que a convite de Mariza cantaram o refrão tão alto quanto as regras de etiqueta o permitem.
E porque o fado não é só quem canta, Mariza virou o foco das atenções para os músicos que a acompanharam neste espetáculo, retirando-se do palco durante o instrumental, aproveitando assim também para recarregar baterias.

Temas como “Dona Rosa”, “Mais Uma Lua” e “Rosa da Madragoa” do seu último álbum «Fado Tradicional», foram o convite para o regresso ao palco. Este álbum foi lançado em 2010, e a fadista confessou que retrata os artistas que influenciaram a sua carreira desde os tempos em que ouvia o fado na taberna dos seus pais.

Um dos momentos altos da noite foi a interpretação de “Rosa Branca”, que Mariza uma vez mais, incentiva os presentes a aquecerem as vozes e cantarem o refrão, ao que o público responde de forma tímida, embora acompanhando com palmas. Mostrando a sua insatisfação, Mariza acionou o “modo entertainer” ao dividir o público em dois, apelando à competição para ver quem cantava o refrão com mais energia – o que é uma tarefa complicada em Cascais – pois como Mariza afirmou: “Isto não é só vir ao concerto e bater palmas". A timidez foi passando e já se faziam ouvir a cinco metros de distância.

O concerto já entrava na reta final mas ainda houve tempo para uns passinhos de dança em “Feira de Castro”, e a um solo energético de bateria com Vicky Marques, que embora tenha optado por um registro mais rock, que à partida pouca ligação terá com o fado, possibilitou dar um pouco mais de vida e calor a uma noite fria.

Para finalizar, Mariza partilhou o desejo de fazer alguma coisa estranha, algo diferente, com direito a tradução em inglês, já que a sua popularidade e a quantidade considerável de estrangeiros presentes assim o obrigava.

Esse desejo tomou forma na interpretação dos temas “Fascinação” de Elis Regina e “Te Extraño” de Miguel Luis, que foram muito bem recebidos, com especial destaque para o primeiro.

O concerto não teve propriamente um encore (porque enquanto não explicarem aos tios e tias de Cascais o que é um, os artistas correm o risco de regressar ao palco já com a plateia vazia), por isso as saídas de palco de Mariza foram breves. Mas a última foi especial, quando em vez de regressar ao palco, surge no meio da plateia para interpretar “Ó Gente da Minha Terra”, o que “obrigou” os presentes a retirar os telemóveis do bolso - era a grande oportunidade de terem uma boa fotografia para publicar no Instagram.

Já de volta ao palco, Mariza leva o público a novo exame oral e canta novamente “Rosa Branca”.

A primeira edição do Cascais Music Festival chegou ao fim, depois de duas semanas com um cartaz de luxo e uma lesão misteriosa. Talvez não tenham conseguido a lotação desejada, mas fica o desejo de ver como este festival vai evoluir no próximo ano.


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Fotografia: Cátia Agapito
Texto: José Reboca
Agradecimentos: Everything is New
Festival: Cascais Music Festival
Fadista: Mariza
Local: Hipódromo Manuel Possolo, Cascais
Data: 29 de julho de 2012

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