[ENTREVISTA]: NORTON



Os NORTON têm 10 anos de carreira. Pedro Afonso, vocalista da banda, descreveu-me um pouco o percurso da banda. “Eu tocava com o Rodolfo (bateria), em Oscilating Fan. Éramos um trio. O Rodolfo tinha outro projeto também, que eram os Alien Picnic. E chegamos a um ponto em que a união das bandas fazia mais sentido. Já partilhávamos a mesma sala.”


Chegaram até a chamar-se a si mesmos como típica banda de liceu (apesar de alguma controvérsia entre membros), até ao dia em que decidiram levar tudo um pouco mais a sério. Ainda assim, são do mais descontraído que há. Relaxados nas suas cadeiras numa esplanada, tiram uma fotografia aos gravadores dos jornalistas que os entrevistaram, tendo uma especial atenção aos fãs que comunicam com eles através das redes sociais. “[A internet] é o melhor amigo e aliado que temos,” confessa o baterista Rodolfo Matos, que para além do seu posto estar por trás do set, é também um homem das máquinas, tratando de programações e de sequências dos sintetizadores. Quando questionados sobre o assunto, eles são diretos, e concordam que muitas bandas precisam de saber usar a internet como o instrumento valioso que pode ser. “Tem a ver com a tua atitude, e com a tua maneira de ver as coisas,” diz o guitarrista Manuel Simões. “Agora podemos interagir com as pessoas, a comunicação pela internet tem sido incrível, e para falar com pessoas no nosso Facebook do lado do outro país e do mundo.”

Rodolfo explica mais detalhadamente sobre o que a internet pode servir às bandas musicais. “Algumas bandas sabem, outras não. As editoras grandes não sabem de todo usar para seu proveito. Acho que ainda não se aperceberam do que é aquilo; é um bicho de 7 cabeças. E as pequenas bandas sabem perfeitamente que o que vai aparecendo de novo na internet, com alguma visão, percebem em que é que aquilo lhes pode ajudar. Um músico que diga que a internet é a pior coisa que aconteceu é completamente ridículo, não faz sentido. Nós ainda éramos do tempo em que para marcar um concerto tínhamos de marcar por telefone, e para enviar uma cassete para a Blitz tínhamos de fazê-lo pelo correio, e depois tinhas de lhes telefonar para saber se já tinha chegado e hoje em dia não tem nada a ver.”

Mas nem tudo é rosas e os Norton estão bem conscientes disso. “A única coisa menos boa da internet é que automaticamente a tecnologia toda avançou, e agora com uns trocos cada um grava um disco em casa e consegue editar, ou seja, a oferta é tão grande que as pessoas parece que estão a ser bombardeadas por informação e a música deixou de ser um pouco especial,” continua Rodolfo. Manuel ainda nota que é muito difícil dar atenção a tudo, com isto, e o baterista ainda diz: “As pessoas já têm a vida delas, são bombardeadas com notícias do mundo inteiro de desgraças aqui e ali porque as notícias aqui em Portugal são só de desgraças, e depois ainda mais terem tempo para ouvir o disco do princípio ao fim, é difícil. Só mesmo quem gosta de música é que vai à internet buscar bandas novas. Mas os outros gostam daquela música que passa naquela novela e compram discos. Se calhar são as únicas pessoas que compram discos.”

Os Norton, afinal, têm um pesado e valioso currículo, pelo que notam alguma diferença na compra dos discos hoje, mas isso, para eles, não é o mais importante. “Já nos aconteceu, quando começámos a tocar bastante, umas das surpresas que tínhamos era que as pessoas conheciam o disco anterior, cantavam as músicas e compravam o cd. Vendíamos num concerto o que vendíamos cá em 10… e isto há 10 anos atrás. E num sítio que nós tocámos as pessoas cantavam as músicas, e montámos a banca e ninguém comprou o disco. Toda a gente tinha sacado o disco da net. Mas gostaram do disco, foram ao concerto, compraram o bilhete para ir ao concerto. Perdeu-se para o público em geral a coisa do “comprar discos”, mas quem compra gosta de ter coisas especiais, gosta de ter aquele, nem que seja 5 minutos a seguir ao concerto, a dizer que gostou do concerto. Isto para as pessoas, para quem gosta de música é uma coisa especial, antes de ir a uma loja qualquer e pagar, quase mais 10 euros pelo disco, e é só mais um…”

Manuel lembra ainda que para além de comprarem sem intermediários, diretamente depois dos concertos, é importante outro aspeto: o contacto com as pessoas. E é por isso que as canções dos Norton são para que as pessoas se divirtam.

“A música é um bocado escape. Acho que as pessoas têm o dia cada vez mais – então nas grandes cidades… - os dias mais stressantes. O pessoal liga cada vez menos a televisão para ver as notícias, e então a ideia é: vão ao concerto, vão-se divertir, vão-se esquecer dos problemas. A ideia é um escape, mesmo para nós. Um escape ao mundo,” diz.

Mas apesar de tudo, é porque os Norton têm a cabeça no sítio. Sabem que devem fazer o que fazem bem, e isso não significa que não se preocupam com o que se passa. “Acho que se o Pedro falar de problemas sociais, ninguém vai ouvir. Acho que as bandas grandes têm esse poder, e acho que devem usar esse poder. Às vezes não o usam da melhor maneira, mas acho que têm esse poder de conseguirem mudar alguma coisa. Acho que o devem fazer, e da melhor maneira que achem,” admite Rodolfo. “Acho que é muito importante para as bandas saberem-se meter no lugar delas, é o principal. Falando nesse aspeto como nos outros.”

Mesmo que não queiram ter essa vertente, é bom entreter os outros. É por isso que o último trabalho da banda, «Layers of Love United», sabe a verão, a estação favorita dos vários membros. “Abrimos a janela para deixar entrar o Sol,” diz Rodolfo, admitindo que os últimos álbuns tinham sido mais introspetivos. “Agora é uma cena para o mundo, mais para encarar as pessoas de frente.”

Foi feito através de um processo super caótico. “Não temos compositor,” nota o baterista. “Tem o seu lado mau, porque demora mais tempo a compor, mas por outro lado é bom porque soa a banda: são quatro pessoas a fazer música. O caótico tem um bocado a ver com cada disco, parece que temos de reaprender a fazer música.”

Mas um álbum de remisturas, o que costuma ser algo normal vindo da banda, não faz parte dos planos. “Acho que neste momento estamos um bocado… não diria “anti” música eletrónica, cerebral, matemática, com o sintetizador e computador,” explica Rodolfo.

“Na altura em que saíram os discos de remistura, fizeram muito sentido e agora nem tanto,” diz Manuel.

“Não gostamos de repetir as fórmulas, e naquela altura fez sentido para aqueles dois discos [1º e 2º],” finaliza Rodolfo. Afinal, os Norton são de facto muito terra-a-terra. De tal forma que perguntando-lhes o que diriam a si mesmos se conseguissem viajar no tempo, até aos primórdios da banda, as respostas não divergem do que é simples. Importante, mas simples. Afinal o tema “Japan” não foi criado por causa da venda dos seus álbuns no Japão, mas foi inspirado pelo filme “Lost In Translation” e pelo gosto que têm pela cultura desse país oriental, e pelo sushi.

“Quero continuar a fazer música,” diz Pedro. “Acho que sinceramente não ia mudar tanta coisa assim. Acho que o caminho ia ser quase sempre o mesmo.”

Manuel encolhe os ombros: “Continua a fazer aquilo que gostas.” E Rodolfo adiciona alguma coisa mais ao gracejar: “Concordo. Afinal, somos pobres mas felizes.”

No final, a banda decide o que é o jantar. Japonês? Não. Bora experimentar antes um tailandês...


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Entrevista por: Carolina Rocha
Fotografia: Carolina Rocha
Banda: Norton

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