[REPORTAGEM]: Walter Benjamin | Auditório Padre Alberto Guimarães | 21 de Abril de 2012



Este Foi uma autêntica reunião, com membros do que poderia ser uma selecção nacional da nova geração da música portuguesa. O concerto de Walter Benjamin, no dia 21 de Abril, no Auditório Padre Alberto Guimarães, para apresentar o álbum «The Imaginary World of Rosemary and Me», pareceu mais uma familiar jam session que um espectáculo, com menos discussões sobre tempos de entradas e bocas atiradas entre membros.

Walter Benjamin contou com músicos com os quais já partilha uma relação de amizade há algum tempo. E Walter – nome artístico de Luís Nunes – tem muitos “wasted friends”. De facto, estiveram 12 músicos em palco, “mais do que uma equipa de futebol” alguém comenta. B Fachada, Noiserv, Márcia, Francisca Cortesão, João Correia, Nuno Lucas, Bruno Pernadas (estes três dos Julie & The Carjackers), Manuel Dordio, Jakob Bazora, João Paulo Feliciano, os dois Baga and The Les Big Macs partilharam o mesmo palco no meio de biombos com flores e cadeiras. Um palco que terá sido montado somente no dia anterior. O que ninguém diria.

O auditório estava cheio, com pessoas sentadas nas escadas, e ainda assim, foi um concerto com um ambiente íntimo, com um elenco que se dedicou às canções tocadas com sorrisos na cara. Estavamos em família, e Benjamin e os seus amigos deixaram logo de início uma confirmação de que eramos bem-vindos nessa reunião e exibição. Bernardo Fachada (ou B-Fachada) balança-se por trás do seu teclado sem parar. Noiserv observa e sorri enquanto não toca. O próprio público é facilmente entusiasmado.

O concerto de abertura foi realizado pelos Baga + The Les Big Macs, vestidos a rigor e com cabeças de cão e coelho. Entusiasmados com o facto de se confrontarem com o público pela primeira vez, chegaram até a tirar a fotografia ao público para a posteridade.

O concerto de Walter Benjamin e “his most wasted friends” continuou com a mesma linha de um pop calmo mas trabalhado, não dado de todo a futilidades. Com os temas “Our Imaginary House”, “Under Your Dress” e “Mary”, deste segundo álbum do artista, o reportório de Walter Benjamin não se mostra linear. Entra na ligeireza tropical em certos temas, mas a pose sobre o palco não é ligeira de todo. Existe uma perdição nas canções, em que “Walter” se debruça sobre a guitarra e parece (mais tarde, ele viria a admiti-lo) que se descola totalmente sobre o local onde está enquanto é conduzido pela debandada dos acordes. A intensidade na música é palpável e nota-se um respeito pela própria desorientação entre o público enquanto que “Paperboats”, “Cannoball” e “Soldiers” se desenrolam.

E esta é uma equipa com um elenco preciso, em que cada um possui uma noção específica sobre o papel de cada um. Walter mantém-se no centro, agradece, apresenta os colegas. Não deixa de agradecer, pois é algo que admite que se esquece muito de fazer, e o facto de este ser um momento especial. Existe uma pequena história entre a história das músicas: antes do tema “Sharing Cigarettes”, o cantor-barra-guitarrista-barra-produtor não tem medo de admitir sobre o que se trata “Esta é uma canção sobre ser pobre... que é o meu estado”. Embora a admissão pudesse ter sido vista com alguma incredulidade, houve alguém que se lembrasse da expressão “starving artist” entre o público. Quando toca “High Speed Love”, Walter chama os membros dos Baga + The Les Big Macs ao palco. É tudo uma sensação de companheirismo que se alastra por todos os cantos do auditório, e o público, esse, agradece.

Pareceu que de repente se mudou de cenário para um espaço electrónico, quase cibernético, mais electro pop que folk e baseado na repetição do ritmo para rodear um verso marcante, quando Walter e Jakob Bazora, aliados desde as aventuras de Luís Nunes a Londres, se juntaram atrás dos sintetizadores e tocaram “Shoot Us”. No final, puxaram pelo público para cantar em coro “we might never fall in love, but you can kiss me anyway”, para o qual não foi preciso muito incentivo. O encore, inesperado, foi apresentado por Walter Benjamin sozinho, com o tema “Your House”, última canção deste último trabalho. O final foi digno de uma fotografia de família, com todos no palco.

A voz perde-se por entre as Explorer, uma guitarra mais precisa, e Epiphony, mais blues, mas as canções não chegam a um género, nem outro. Com efeito, é como se todos os instrumentos utilizados naquele palco tivessem decidido fazer uma excursão para férias, e deixaram o “trabalho”, a sua verdadeira função, para trás, sem por isso deixar de trazer a sua verdadeira essência. É essa mesma ligeireza e unicidade que se mostra singular e precisamente o que se aprecia. O facto de Walter Benjamin ter sido uma constante na produção de vários produtos musicais portugueses é bastante influente na composição das suas próprias músicas, e os temas deceptivamente simplistas adquirem uma menor subtileza quando ao vivo, pois está tudo à vista do espectador. E foi isso que Walter Benjamin procurou. E a audiência agradece, levanta a sua garrafa mini de cerveja na mão como o último aceno da noite enquanto que os músicos ficaram no palco a fazer, aí sim, a verdadeira jam session off record. Mas entre o público, e embora não tenha sido verdadeiramente vocalizada, ficou a pergunta no ar: “E a próxima jam, na garagem de quem?”

Alinhamento:
Our Imaginary House
Under Your Dress
Mary
Paris
Paper Boats
Cannoball
Soldiers
Airports and Broken Hearts
This Ain’t Our Last Dance
Sharing Cigarettes
Twenty Four
Shoot Us
High Speed Love
Breathe Well
We Might Never Fall in Love
~ENCORE~
Your House



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Fotografia e Texto: Carolina Rocha
Músico: Walter Benjamin
Local: Auditório Padre Alberto Guimarães, Lisboa
Data: 21 de Abril de 2012

2 comentários:

Miguel disse...

Bruno Pernadas também pertence aos Julie and The Carjackers.

Tribo da Luz disse...

Obrigado Miguel :)

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