[ENTREVISTA]: FERNANDO CABRAL - REGGAE BLAST



Muito andamento, muita vontade e muito à vontade. Foi assim que Fernando Cabral recebeu a Tribo da Luz no Campo Pequeno, onde irá decorrer o primeiro dia do Reggae Blast, na sexta-feira, dia 23 de Março, para depois se deslocar para o Coliseu do Porto no dia seguinte. “Como é que isto vai ser feito? És tu que tiras as fotografias? Então vamos para um sítio para fotografar com o cartaz. Já está? Deixa ver. Está fixe. Bora lá.” Não há tempo a perder.

O objectivo, a mensagem a transmitir com este festival é muito directa: “A mensagem que queremos transmitir é principalmente uma celebração do Reggae, que é um género que tem já bastantes fãs em Portugal, e garantir assim duas grandes noites de reggae, em Lisboa e no Porto.”

De sotaque francês algo carregado, Fernando Cabral é um dos grandes divulgadores do reggae em Portugal, e a forma como responde, pronta, rápida, mas com a good vibe de alguém que leva o ideal como modo de vida, já debaixo da pele.

Sobre o público que espera no festival, Fernando não é esquisito: “A malta toda, não consigo definir o público do reggae. Vai dos 8 aos 80, como se diz.” Sorri. “[O reggae] é um estilo musical que toda a gente ouve, o que não acontece com os outros tipos de música. Consegues ter uma diferença no público incrível. Estou à espera de tanto jovens como velhos e uma grande diversidade no público.”

Esperando então reunir e unir as pessoas, quer que a mensagem seja sobretudo de positivismo. “As três bandas têm todas uma mensagem muito forte, muito positiva. O reggae não foge muito a isso, desde o Bob Marley e por aí, é sempre uma mensagem forte. E é isso que queremos transmitir: união entre todos os povos, paz e amor e essas coisas todas...”

E mesmo com todas as dificuldades actuais, o sentimento optimista mantém-se forte: “Este ano está a ser um bocadinho complicado a nível de eventos, mas isso sente-se em tudo. Há que saber fazer as coisas certas, que as pessoas querem ver, que sejam apelativas, e também acho que o preço o é: são 25 euros para ver 3 bandas internacionais, aqui no Campo Pequeno e no Coliseu do Porto e acho que está em conta com os tempos que nós vivemos.”

O cartaz, igual em ambas as cidades e em dois dias seguidos, foi fortuito e produto da disponibilidade de todas as bandas. “Ainda por cima as bandas são todas muito amigas umas das outras, já trabalharam juntas antes. Está tudo entre família, vamos para o Porto de autocarro todos juntos. É quase uma digressão familiar.” O cartaz é composto por 3 gerações do reggae, com sonoridades algo diferentes, e isso foi propositado.

“Há muita gente que pensa que o reggae é sempre a mesma coisa, e eu não concordo com isso. Há muita diversidade no reggae e neste cartaz realmente estamos a tentar mostrar todas as suas vertentes.”

Sobre o facto do reggae “estar na moda”, Fernando admite que já não é novidade. Afinal, muitos festivais têm muitos palcos reggae. O que é interessante, sim, é que o gosto pelo reggae parece ter saltado uma geração. “Há toda uma nova geração, entre os 15 e os 25 anos, que está viciada no reggae e que adora o estilo musical,” diz, e aqui vício é uma palavra má para explicar algo que para Fernando é visivelmente muito bom para o seu espírito. “Tenho 35 anos e há pouca gente da minha geração que vai aos concertos, e hoje em dia os festivais estão cheios de gente jovem.”

Sobre o roots, a vertente da velha guarda do reggae, Fernando ainda acredita que sobrevive, se bem que em locais selectos. “O roots continua aí, só que os tempos mudaram. Nos anos 70, 80, com a divulgação de temas sobre direitos humanos e tudo o que se passou naquele tempo, a mensagem rasta fazia muito sentido. Hoje em dia nem na Jamaica se ouve roots. Muitos artistas jamaicanos tentam furar o mercado americano, portanto tentam usar sonoridades diferentes, mais viradas para o hip hop e electronica. Mas acho que roots está de boa saúde, principalmente na Europa e na América do Sul. Continua forte mas fora da Jamaica.”

A força do reggae em Portugal ainda tem muito para dar, é ainda muito jovem, em comparação com outros países. “Eu lembro-me do caso de artistas alemães e franceses que trouxe a Portugal. Muitos me disseram, quando vieram cá, que isto lhes fazia lembrar de quando o reggae começou no país deles.”

Mas Portugal tem potencial, apesar do caminho ser longo. “A vibe das pessoas, a praia, o sol, a boa disposição, o pessoal do surf e do bodyboard que tem muitos valores iguais aos do reggae, acho que tem todas as condições para ter muito sucesso aqui. Mas ainda há muita coisa para desenvolver. Há muita gente envolvida no mercado, e ele está aí. O único problema é que ainda não há muita divulgação. O reggae não toca muito na rádio, na televisão, só certos artistas como o Gentleman e o Patrice, mas acho que isso há-de mudar. Há websites a divulgar este tipo de eventos, e os miúdos agora fazem-no através da internet e das redes sociais. Penso que a partir de agora a divulgação vai ser melhor. Há cada vez mais projectos com mais qualidade, e a serem divulgados.”

Acima de tudo, o optimismo, a determinação de alguém que quer transmitir algo bom para as pessoas, de ver espalhar a alegria e o positivismo que o reggae tanto envia ao mundo, no início a partir da Jamaica, agora a partir de vários cantos do mundo, de várias formas. Se bem que a diferença entre o reggae no Portugal de 10 anos atrás e o actual não é muito grande. E daqui a 10 anos mais? Fernando vê-o de “boa saúde, com os sound systems a dominar todas as praças, e cada vez mais forte.”

Os próximos passos? “A próxima edição do Reggae Blast. Mas uma das ideias é ter uma maior componente nacional,” e engane-se quem pense que esta edição não tem protagonistas portugueses: “Este ano temos tanto em Lisboa como no Porto Djs nacionais, os Big Badaboom e os Firebox aqui no Campo Pequeno, e no Porto temos os Celebration Sound e o Chibata, portanto ainda temos música portuguesa. Estamos agora a investir numa nova sala que é o Room 5, onde vamos ter uma noite mensal a partir do próximo mês. Aliás, vamos fazer a After Party do Reggae Blast lá. Quem comprar bilhete para o Reggae Blast tem entrada gratuita para a After Party no Room 5.”

Aqui está a dica. Só não vai à after party quem não quer. Aliás, o Fernando bem os quer, pedindo-me para fazer a divulgação o mais rápido possível. Afinal, é isso mesmo que o reggae se trata: reunião para uma celebração.



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Entrevista por: Carolina Rocha
Foto: Carolina Rocha
Festival Raggae Blast: Facebook

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