[REPORTAGEM]: Cine-concerto "Estrada de Palha" | Teatro São Luiz | 1 de Fevereiro de 2012



Na primeira noite de Fevereiro, o Teatro São Luiz foi o palco do último cine-concerto de The Legendary Tiger Man e Rita Redshoes, “nos instrumentos”, e de Rodrigo Areias, ”na tela”.

Na tela tivemos Estrada de Palha, o mais recente filme do realizador/produtor/argumentista Rodrigo Areias e, simultaneamente, pudemos ouvir, ao vivo e pela mão dos seus compositores, a banda sonora da longa-metragem.

O filme
Pode dizer-se que Estrada de Palha é um western de nacionalidade portuguesa. Conta-nos a história de um homem que, após ter vivido muito tempo longe do seu país, regressa à sua aldeia para vingar a morte do irmão. Mas este homem não traz consigo apenas a sede de justiça, a Desobediência Civil é a ideia que tem sempre consigo no bolso das calças. E assim, de um lado temos este homem, Alberto, e do outro o seu país, Portugal, lugar corrompido pelo próprio Estado e onde o povo já não estranha palavras como extorsão e injustiça.
A acção decorre no final do século XIX e início do século XX, entre a Serra da Estrela e o Alto Alentejo, “respeitando o trajecto da transumância do gado serrano, um dos principais motores económicos da Península Ibérica durante mais de cinco séculos”, segundo Rodrigo Areias. O cineasta afirma ainda que esta actividade nunca foi devidamente respeitada ou até protegida e que isso é algo que nunca compreendeu.
Com o palco definido, o filme mostra-nos aquele confronto tão desigual entre um homem e a tirania de um Estado e um povo mais ou menos conformado. No final do filme pudemos ler na tela, em fundo preto: "Vi que o Estado era um deficiente mental, receoso como uma mulher que vive sozinha com as suas pratas, incapaz de fazer a distinção entre amigos e adversários. Perdi então o pouco respeito que lhe guardava e passei a ter pena dele." (Henry David Thoreau).

O concerto
The Legendary Tiger Man e Rita Redshoes criaram a banda sonora de Estrada de Palha num estilo algo familiar, pelo menos para Tiger Man. Segundo os dois músicos, todos os temas “foram gravados live ao ritmo de cada uma das cenas do filme” e foi precisamente essa a experiência que tivemos no Teatro São Luiz.
Se a experiência não é muito comum, a construção da banda sonora também não foi a mais usual, pelo que, por entre os instrumentos mais familiares, se pôde avistar um marxophone, um violi-uke e até um berbequim.
O estilo obtido é sem dúvida uma mistura entre a clássica western music e algumas características muito portuguesas: a circunspecção, a tristeza e o refreamento. Houve, portanto, total sintonia entre os sons e as imagens dessa noite.

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Texto: Filipa Leite Rosa
Agradecimentos: Vachier
Cine-Concerto: Estrada de Palha
Local: Teatro São Luiz, Lisboa
Data: 1 de Fevereiro de 2012

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