[REPORTAGEM]: Paredes de Coura (1º e 2º Dias) | Praia F. Taboão | 16 e 17 Agosto 2011



Quando chegamos a Paredes de Coura ao final da tarde - de armas e bagagens e o que mais houvesse porque a vida de campista não é fácil - para abancar calmamente nas margens daquele rio, percebemos logo ali que a festa já há muito tinha começado e que os mais prevenidos chegaram mesmo a tempo e horas – as férias e o fim-de-semana vieram mesmo a calhar - e não brincaram em serviço: as tendas já estavam montadas e cheias de pó tal como manda a tradição, o manto de relva estava estrategicamente ocupado por geleiras bem aviadas, toalhas e mais toalhas, muitas guitarras e corpos morenos estendidos ao sol. Os azarados que ainda não tinham encontrado pouso seguro corriam de mochila às costas em busca de simpáticos esconderijos secretos. A pergunta que mais se ouvia por aquelas bandas: Mas o parque já está lotado? Parece óbvio que os melhores lugares foram imediatamente tomados de assalto e que a fila para os chuveiros era já interminável – ainda assim alguns corajosos atreviam-se a tomar banho no rio antes de entrarem no recinto e outros subiam e desciam as ladeiras como se nada fosse, sobrecarregados que estavam de cerveja e garrafas de vinho tinto – vale tudo para abastecerem as tendas mais sequiosas do outro lado da ponte, claro. A boa disposição é que não pode faltar e o cansaço era coisa pouca nos rostos de quem passava por nós.

Quarteto de Bolso - 21h - AFTER HOURS
Às 20.30h abriram as portas do recinto. A fome falou mais alto e poucos espectadores se viam a circular em frente ao palco que iria inaugurar a primeira noite do festival. Uma banda portuguesa tinha honras de abertura mas a grande maioria das pessoas concentrava-se nos corredores da praça de alimentação enquanto os restantes começavam ainda a fazer o reconhecimento do terreno. Dito isto, os Quarteto de Bolso estrearam o Palco After Hours às 21h e até foram muitos aqueles que guardaram um lugar nas primeiras filas para assistir ao primeiro concerto da noite. Na verdade, os ânimos ainda não tinham aquecido verdadeiramente mas o sexteto não desiludiu e com Sempre Contente conseguiu arrancar palmas e assobios aos mais pacatos. Os mais irrequietos já se mexiam ao som do clarinete e do trompete. Bem-vindos a Paredes de Coura. Começava assim a euforia que iria durar noite dentro.

Omar Souleyman - 22h - AFTER HOURS
Pode dizer-se que Omar Souleyman foi a revelação da noite para aqueles que ainda não se tinham cruzado com os óculos escuros, o bigode e o turbante, a atitude excêntrica desta personagem chegada da Síria. Parece simples e até é: de braços no ar, a circular de um lado para o outro e a gritar ”Portugal, oh!” sempre que lhe apetecia, o artista soube conquistar a multidão mal pisou o palco. A música hipnotizante e o sintetizador fizeram o resto, até porque não saber o que se está para ali a cantar não é problema nenhum: o árabe tem aquele cheirinho oriental e sabe-nos bem. O ritmo é claramente de alegria. Até porque ”se ele nos estivesse a insultar ninguém dava conta”, dizem. A música é repetitiva e não é propriamente profunda e intimista mas entra no ouvido que é uma maravilha. É um facto comprovado: ninguém deixou de dançar, saltar e bater palminhas com estilo. Não se sabe bem de onde chegou aquele mar de gente assim de repente mas depois de uma hora em puro êxtase e no final da actuação, já todos chamavam ”Omar! Omar!” com insistência e admiração.

Wild Beasts - 23:30h - AFTER HOURS
Os britânicos Wild Beasts chegaram para fazer baixar a poeira mas os problemas técnicos iniciais influenciaram uma actuação que bem podia ter sido perfeita. A recepção foi calorosa e com um novo álbum na manga, lançado em Maio deste ano, foram bastantes os que quiseram ver e ouvir a banda de Hayden Thorpe e Tom Fleming (por falar nisso, existem gorros que assentam na perfeição, não acham?) e eles bem que disseram que era bom ver-nos ali. A arrancar com Albatross, música que foi reconhecida instantaneamente, e revisitando o álbum anterior - Two Dancers - foi inevitável cair dentro de uma espécie de bolha mágica que acabou por nos conduzir até à intensidade de Hooting & Howling. Resultado: o público a cantar sozinho. Impressionante. E muito se podia dizer acerca da empatia construída e conquistada pelos Wild Beasts em apenas uma hora de espectáculo mas o fim chega mesmo depressa demais. Com muita pena nossa, há que dizê-lo. Porque a profundidade dos seus discos acabou por vingar numa noite em que, até àquele momento, só a vontade de ondular o corpo ao som da música crescia em nós. E simpatia, beleza e humildade de uma assentada também é uma coisa grande de se ver mesmo que o som se mostre contra todas as possibilidades: prova superada mais uma vez.

Crystal Castles - 01h - AFTER HOURS
Milhares de pessoas agora para espreitarem Crystal Castles. Sim, digo espreitar porque o espaço tornou-se minúsculo para acolher tanta gente e percebe-se então que os mais jovens estavam ansiosos por este concerto. Ver Alice Glass de longe parece não ser a melhor opção mas à falta de melhor sempre se pode levantar os braços e dar largas ao corpo que não consegue ficar quieto. O duo canadiano já é habitual nestas andanças em Portugal mas mesmo assim arrasta consigo uma multidão de seguidores. Não importa se era quase impossível respirar junto ao palco, o que interessa é incendiar o recinto com música electrónica e uns agudos peculiares. Sem dar ares de esgotados, os presentes respondiam aos avanços da banda e dançavam como se não houvesse amanhã. Não importa ver, importa é sentir. Nunca uma frase fez tanto sentido como naquele instante. As sombras deram lugar à imaginação – e é fácil imaginarmos uma Alice Glass selvagem, a saltar em palco ou a desafiar a bateria. Faltou Robert Smith a dar uma perninha e a ajudar num final completamente rendido e apaixonado ao som de Not In Love.

Vladimir Dynamo - 02:10h - AFTER HOURS
A primeira noite encerrou com Vladimir Dynamo, DJ espanhol de indie-rock. Os mais resistentes puderam então continuar a dar azo à vontade de espraiar o corpo. Amanhã há mais, com certeza, e as baterias têm todo o tempo para recarregar.



REPORTAGEM FESTIVAL PAREDES DE COURA 2011:
1º e 2º Dias (16 e 17 Agosto 2011)
3º Dia (18 Agosto 2011)
4º Dia (19 Agosto 2011)
5º Dia (20 Agosto 2011)


DIA 16 AGOSTO | SHOWCASE




DIA 17 AGOSTO | AFTER HOURS



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Fotos: Hugo Lima (gentilmente cedidas pela organização)
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Ritmos
Local: Praia Fluvial Taboão, Paredes de Coura
Data: 16 e 17 Agosto 2011 (1º e 2º dias do festival)

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