[REPORTAGEM]: Ney Matogrosso | Casa da Música | 4 Julho 2011



Onde uma plateia imensa esperava por Ney Matogrosso na Casa da Música, foi abordada com uma primeira parte concretizada pelo Rodrigo Maranhão que nos trazia o seu álbum editado em 2010 intitulado Passageiro. Aquela noite prometia quando a sua voz expeliu Sonho, numa variedade pura de ritmos e de estilos, onde pairava uma magia suprema, fundindo as suas belíssimas canções.

Ninguém ficou indiferente, aqueles admiráveis músicos que transmitiam nas melodias, nuances de tango que faziam lembrar Gotan Project e com cheiro a samba de roda oriundo da Bahia.

As suas composições interpretadas por inúmeros artistas brasileiros deixam na lista nomes como Roberta Sá, Fernanda Abreu e Zélia Duncan. E de melodia em melodia ouvem-se as ovações prestadas pelo público que deixou o ar descontente em casa. A felicidade expressada na cara de Rodrigo deixa transportar as seguintes palavras – “É um prazer imenso estar a tocar na Casa da Música, e quero agradecer ao Ney por me ceder este espaço. Para mim é um dia muito especial!”

Samba De Um Minuto, as pandeiretas marcam o ritmo e acompanham a voz açucarada de Rodrigo, e aquela luz intimista convidava a plateia a levantar-se e a dar um pé de dança, como se de uma valsa de roça se tratasse, onde os pés descalços pisariam o chão daquela casa. Terra por terra, devagar devagarinho, ia conquistando o seu espaço com a sua voz suave e o seu manuseamento de cordas.

Recado, que fora gravado pela Maria Rita – uma das artistas que poderemos ver no dia 18 de Julho neste mesmo espaço – deu um empurrão para mostrar Rodrigo Maranhão ao mundo.

Acompanhado por José Nogueira (saxofone soprano), Fernando Duarte (guitarra), o seu compadre Eduardo Fuentes (percussão), Marcelo Caldi (sanfona).

A sua comunicação com o público era surpreendente, deixando um agradecimento sentido aos presentes e a toda a equipa que proporcionou o espectáculo. Em Bordado, pediu que a plateia se juntasse a ele através do batuque com as palmas ou o bater dos pés sobre o solo. E na sua última canção Caminho das Águas, que lhe fazia relembrar o seu avô português, que apesar de nunca o ter trazido até às suas raízes, Rodrigo dizia “e onde ele estiver, deve de estar muito feliz!”.

E como se um cabaret se tratasse não existiria melhor forma de Ney Matogrosso dar inicio ao seu espectáculo. Tango Para Tereza, passa da passerelle em cima do palco para a boca de cena composta pelos músicos, Leandro Braga (piano), Felipe Roseno (percussão), Alexandre Casado (violino e bandolim) e Lui Coimbra (violoncelo e guitarra).

Este espectáculo idealizado por Ney Matogrosso que atribuiu-lhe o significado de Beijo Bandido releva a sua naturalidade possuidora de um passado safado eloquente. Podendo-se averiguar este mesmo adjectivo, quando decide despir o seu casaco, limpando o forro no seu órgão sexual colocando-o posteriormente em cima de sua cadeira, arregaçando cada manga, deixando surgir os comentários do público que estava à espera de ver mais e mais.

De melodia em melodia, Ney mostra os seus passos encenados cheios de esplendor, mostrando que o menino que outrora foi virou “homem com H”. Agradecendo pelo facto de estar naquela casa, ao ver que o público nota a nota, passo a passo, ficava mais rendido aos seus encantos.

Um bicho de palco enrolava-se na quimera proporcionada pelas flutuantes melodias que iam aconchegando corpo a corpo. Ergue a sua mão e passa por sua cabeça, como se fosse despejar o seu suor no chão, e começa com À Distância, deixando a sua voz entoar, tornando-a omnipresente sem nunca perder uma nota vocal.

A expressividade de Ney fazia-se sentir, A Cor Do Desejo, levava-nos até à Índia, com os movimentos corporais ao ritmo dos sons que Leandro Braga traduzia no seu teclado. Estamos perante uma sala que se vai moldando em torno de todas as vocalizações, deixando cada ser perplexo. As projecções deixam-nos caminhar até si, e Nada Por Mim, relembra-nos Kid Abelha na voz de Paula Toller, e os sussurros ouviam-se a acompanhar esta belíssima melodia portadora de uma suavidade extraordinária.

Ney senta-se e acaba por declamar um “segredo para quatro paredes” através de Segredo, e os gritos eufóricos surgiam um por si só na plateia quando o ritmo mudou ligeiramente.

E porque a doçura queria ser alcançada num momento inefável, Doce De Coco, o silêncio alcança-se no coração daqueles que por lá pairam, partilhando as partículas que envolviam o espaço com uma bela canção de amor, seguindo-se Medo De Amar.

Bicho de Sete Cabeças, junta todo o palavreado teatral esboçado em movimentos corporais e vocalizados através do Cabaret propositado, e só quem lá estava poderia bosquejar um “Wow” como o que surgiu de um dos espectadores.

As chamas de fogo e o ritmo de batalha entre o violoncelo e o violino pronunciam As Ilhas, a riqueza sonora assiste uma imagem de Ney a esvoaçar pelo palco, e o fim é anunciado, permanecendo a plateia em pé em prol do chamamento.

Solta-se o encore, e Mulher Sem Razão surge, dando lugar a um gesto. Ney segura uma rosa com tons amarelos e cor-de-rosa e corta o seu caule com os dentes, suportando-a durante a melodia Fala. Uma brilhante forma de acabar o seu espectáculo e de se despedir com o seu jeito característico ao pegar no seu casaco e ao agradecer a plateia que ficara dominada pelos versos do cabaret bandido.


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Fotos: Carina Guilherme
Texto: Maria Manuel
Agradecimentos: Casa da Música
Cantora: Ney Matogrosso
Local: Casa da Música, Porto
Data: 4 Julho de 2011
Site Oficial da Cantora: www2.uol.com.br/neymatogrosso/

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