Moonspell | Teatro Rivoli | 14 de Fevereiro de 2011



Numa tournée que tem sido feita à chuva – a noite de ontem no Rivoli não foi excepção – os Opus Diabolicum, banda de tributo aos Moonspell, abriram as hostilidades com a faixa homónima.
O relógio marcava exactamente as 21.45h quando em palco surgiram os quatro violoncelistas (André Pontífice, Diogo Penha, Tiago Rosa e Valter Freitas) e o percussionista (Miguel Oliveira) sob uma cortina de fumo. Ao entrarmos na sala salta logo à vista um pentagrama gigante coberto por um pano semi-transparente e que, à primeira interpretação do quinteto, é substituído por uma lua cheia a lembrar os tempos de Full Moon Madness. Entre clássicos como Vampíria, Nocturna e até Tenebrarum Oratorium, os Opus Diabolicum emprestaram novas roupagens aos temas já conhecidos de Moonspell e atreveram-se a apresentar uma música original (Moonspell, passe a redundância) que demonstra desde já a admiração nutrida pela banda. Mas sabíamos que aquela seria à partida uma noite de amor e de guerra – ou não fosse o dia dos namorados – e, como tal, a Deusa do Amor foi chamada a intervir vestindo a pele de guerreira sagrada. Trebaruna, de seu nome.
O concerto de abertura termina assim com a intervenção de Fernando Ribeiro no palco, também ele a evocar a presença de todos os lobos e deuses. O público aplaudiu de pé.

Depois de uma curta pausa, a segunda parte do espectáculo está prestes a ganhar vida e a expectativa dentro da sala começa a aumentar. A plateia estava composta por uma moldura humana imprevista: desde o metaleiro assumido, de cabelos compridos e desalinhados - sempre de negro - até à senhora mais curiosa, com o seu casaco de pêlo e sapatos de salto alto, encontramos muita gente. Entre a luz e a escuridão, num jogo de sombras, irrompem as silhuetas projectadas na parede. Acompanhados dos Opus Diabolicum e também das Crystal Mountain Singers (coro feminino composto por Carmen Simões, Sara Belo e Alexandra Bernardo), a comunhão entre as palavras sensatas de Fernando Ribeiro e a recente sonoridade acústica foi-se derramando ao longo da noite, surpreendendo os mais cépticos. A banda de metal dos anos 90 ainda consegue reinventar-se após um merecido reconhecimento no estrangeiro. Depois de uma passagem pela Casa da Música no ano passado, os Moonspell mostraram-se agradecidos por voltarem ao Porto, cidade de público eclético que sempre gostou de música.

O alinhamento do concerto foi um revisitar de velhos álbuns: contaram-se histórias de lobos através de Wolfshade. Em Awake, os corvos acompanharam o vaguear errante de uma dama antiga pela cidade, não sem antes também mergulharmos no vermelho vivo de Opium, onde o violoncelo tomou honras de destaque. Seguiu-se 2econd Skin e os efeitos visuais apresentavam animações inteligentes e bem conseguidas contribuindo para um momento marcante: Magdalene, que na voz de Fernando Ribeiro é um tema de amor e desamor retirado de Sin – acabando ele também por confessar que o acústico Sombra foi muito inspirado na base desse álbum.
No ecrã, o fumo arroxeado diluía-se até intuirmos a boca esfomeada de uma serpente, sobressaindo também as cortinas de veludo vermelhas. O próprio amor é sangue, um misto de fúria e de beleza e é importante ensinarmos a cultura da proximidade. Foi com este poder de encaixe que Scorpion Flower foi apresentada à assistência. O coro ganhou firmeza, viam-se pétalas a esvoaçar e o aplauso que se seguiu dirigiu-se também a Pedro Paixão, director musical, guitarrista e grande impulsionador da Sombra.

E porque sabíamos de antemão que esta actuação iria ter uma convidada especial – os Moonspell sempre gostaram de se associar a datas comemorativas – Fernando Ribeiro chama Sónia Tavares, a vocalista da banda The Gift e também sua namorada, para juntos darem corpo ao inferno amoroso, essa ambiguidade que está presente entre todos aqueles que se amam. Mute foi o tema escolhido pelos dois e a interpretação de Sónia contribuiu para um dos momentos mais aguardados da noite, conseguindo - ao mesmo tempo - reunir as mais diferenciadas sensibilidades.
E para contrabalançar com a discreta passagem de Sónia Tavares pelo palco, o público recebeu o hino Alma Mater de pé e acompanhou o refrão com a garra habitual dos célebres concertos de Moonspell. Os Senhores da Guerra ainda tiveram oportunidade de cantar (tema que foi dedicado a Francisco Ribeiro) antes de um final previsto: Full Moon Madness soou numa faceta semi-acústica e encerrou a noite entre uivos e barcos de papel.

Depois de hora e meia de concerto, os Moonspell despediram-se até um próximo disco e nós, que estivemos lá, saímos com a impressão de que nenhum estilo deve ser catalogado porque as grandes bandas conseguem muitas vezes mostrar-nos o lado menos carregado da sombra. Haja vontade.


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Fotos: Ricardo Silva
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Fantasporto
Banda: Moonspell
Local: Teatro Rivoli, Porto
Data: 14 de Fevereiro de 2011
Site Oficial da Banda: www.moonspell.com

1 comentários:

Nuno disse...

os silvas da tribo da luz começam a construir um percurso composto por elementos de um nível altíssimo.
não sendo sequer conhecedor do trabalho dos moonspell - não se pode estar em todas - assiste-se aqui a uma obra-prima escrita e fotografada de modo exemplar: ou se prefirem informação como forma de arte.
parabéns

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