Anneke van Giersbergen e Daniel Cardoso | Auditório Sá de Miranda | 29 de Janeiro 2011

Anneke van Giersbergen, ex-vocalista dos The Gathering, esteve de visita a Portugal e trouxe ontem ao Auditório Sá de Miranda, em Braga, o seu projecto a solo,Agua de Annique.

O espaço parecia acolhedor e as pessoas calmamente formaram fila para comprarem os últimos ingressos. Num sábado à noite, a sala pertencente à escola estava composta. Em cima do palco improvisado, apenas duas cadeiras, uma guitarra e um piano. À entrada, e mesmo durante todo o concerto acústico, poucos foram aqueles que decidiram sentar-se. No entanto, o ambiente intimista não se deixou afectar por isso e alguns jovens tomaram a iniciativa de se agachar em redor do cenário montado. Inicialmente agendado para as 20.30h, o concerto começou com um atraso – por volta das 22 horas – e a primeira parte do espectáculo esteve entregue a Rui Carvalho, também guitarrista da banda If Lucy Fell, recentemente mais conhecido como Filho da Mãe, a personagem que encarna e dá vida ao seu mais recente trabalho. Após os primeiros acordes, e depois de uma pausa para afinar a guitarra, somos surpreendidos pela excelência técnica com que manuseia aquele instrumento e entramos por um caminho que nos prende a atenção – mesmo que alguns telemóveis tenham insistido em tocar. O público fecha os olhos e viaja através da musicalidade cinematográfica e da personalidade vincada do artista: são os pés que não param quietos, um constante vaivém que marca um ritmo mais acelerado e trinta minutos que decorrem sem grandes sobressaltos, tal é o embalo que a sonoridade nos proporciona. Numa mescla de blues e rock aproximámo-nos a passos largos do fim: o guitarrista acaba a actuação ajoelhado e esbracejando furiosamente – apercebemo-nos que tem um pedal de delay à sua frente. Entramos numa composição bem elaborada que nos deixa os sentidos despertos. De facto, a carreira vai correndo de feição: após uma actuação pungente em Guimarães ainda na semana passada, o Filho da Mãe despediu-se de Braga sob fortes aplausos e ovações respeitosas.

Anneke entra então em palco e apressa-se a pedir desculpa pelo atraso: aparentemente o Presidente da Câmara fugiu com os cabos eléctricos e foi uma canseira tentar encontrá-lo a tempo e horas. Foi assim que a ex-vocalista dos The Gathering conseguiu arrancar a primeira gargalhada ao público depois do silêncio simpático que se fez sentir à sua chegada. Com um vestido rendado a compor o figurino, Anneke sentou-se ao piano e aquele timbre característico encheu o pequeno auditório. À segunda música, esquecendo por momentos o alinhamento, pediu sugestões à plateia e alguém atirou Wonder à baila. Com um sorriso desarmante, a vocalista anuiu de imediato e ouviu-se entretanto alguém perguntar: É só pedir? Parece que sim. Depois da última passagem em Portugal com os The Gathering há seis anos (já? e vai suspirando como que a dizer: tanto tempo!), Anneke agarrou a guitarra e ofereceu aos mais saudosistas um tema da sua antiga banda. Shrink abalou os ânimos. A sala não estava completamente cheia mas, a cada interpretação, o público ia-se juntando cada vez mais e a atmosfera tornou-se bastante familiar. A pouca iluminação também contribuiu para uma maior descontracção. Sunny Side Up permitiu que fãs mais atentas (ajudem-me: só estão aqui mulheres?!) a acompanhassem na letra do princípio ao fim. Em seguida, uma música dedicada especialmente a elas: I want to understand, what is it, what makes you think you are a man? elevando, deste modo, o entusiasmo a outro nível. Hey, Okay foi a escolhida para manter a boa disposição. Foram tocados mais dois temas dos The Gathering a fazer recordar outros tempos: My Electricity e Locked Away. Anneke fez também uma incursão por algumas covers (algumas bastante improváveis, dirão uns e outros) não esquecendo nomes como U2 e Dolly Parton, admitindo que a maior parte das vezes dedica-se só a canções de amor. Bem, não só, estejam descansados. Canções de amor e – de vez em quando – apetece-lhe contar histórias estranhas sobre, deixa cá ver, prostituição masculina. É o caso de Physical. Para os incrédulos, ela confirma: agora vem a tal que vos falei. E começa a dançar enquanto pede para cantarem com ela. Voltamos minutos depois ao registo original das canções de amor, mais leveza a preencher o espaço: I will lay my head beside you. Durante o espectáculo, Anneke foi brincando com o público e só mais tarde se apercebeu que estava mesmo a actuar no auditório de uma escola secundária onde – pasme-se! – não há sequer bebidas. Tudo bem, sem bebidas mas com surpresas. Hey teacher, leave the kids alone! A surpresa, como foi anunciada, estava ainda por acontecer e eis que surge em palco Daniel Cardoso, num momento bastante especial. O produtor multi-facetado acompanhou Anneke van Giersbergen ao piano e à guitarra, emprestando também a voz em algumas interpretações. Foi notória a cumplicidade entre ambos, tendo Anneke apresentado o instrumentista como o melhor compositor e anunciando que estão de momento em estúdio a escrever e gravar novo material discográfico. Reservadas que estavam algumas músicas para o final da noite, Beautiful One deu início à parceria em cima do palco, seguida de Scorpion Flower, música dos portugueses Moonspell, com com quem Anneke colaborou em 2008. Antes de se despedir pela última vez, a vocalista agradeceu ainda a presença de todos naquela que – nas suas palavras – foi uma noite fantástica. Daniel Cardoso sentou-se ao piano e Anneke van Giersbergen fez o que sabe fazer de melhor: enfeitiçou-nos com uma versão assombrosa de The Blower’s Daughter, original de Damien Rice. A voz, o seu instrumento mais extraordinário, impressionou até ao arrepio.


ANNEKE VAN GIERSBERGEN E DANIEL CARDOSO


















RUI CARVALHO | "FILHO DA MÃE"

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Fotos: Ricardo Silva
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Rosa Velho
Artistas: Anneke van Giersbergen e Daniel Cardoso
Primeira Parte: Rui Carvalho | "Filho da Mãe"
Local: Auditório Sá de Miranda, Braga
Data: 29 Janeiro 2011
Site Oficial da artista: www.aguadeannique.com/