[ENTREVISTA]: :PAPERCUTZ



:Papercutz, projeto do músico e produtor Bruno Miguel, lançou o seu último trabalho no passado mês de Julho. Após «Lylac», de 2009, «The Blur Between Us» mostra-nos como Miguel é capaz de criar linhas frias mas confortáveis, noturnas mas sofisticadas, sem as arestas afiadas que esta sofisticação traz. Um pop místico que envolve o ambiente numa atmosfera tranquila mas com precisão de arranjos minuciosos. Contactámos Bruno Miguel via e-mail e ele respondeu-nos a algumas perguntas sobre o disco, como o seu estilo tão específico se enquadra no ambiente musical português e internacional, e qual o melhor snack para comer no estúdio.


Tribo da Luz - Já tens algum feedback sobre o novo álbum?
:Papercutz - Sim. No geral parecem gostar da sua sonoridade e quem já nos conhece sente uma maior confiança e coesão na abordagem à escrita dos temas.


Tribo da Luz - Entre o público português e o público internacional, notas alguma diferença?
:Papercutz - O público português é mais conservador e preso a uma estética de banda pop entre o indie, folk e o rock. O internacional está mais inteirado das sonoridades electrónicas e da mistura de géneros e expressa-se mais nos concertos. Dito isto, as melhores mensagens pessoais que nos chegam sobre a nossa música, as que me movem mais, vem do público nacional.


Tribo da Luz - E da própria industria musical?
:Papercutz - Não saberia por onde começar... há uma enorme falta de estruturas em Portugal a todos os níveis. Não sei se algum dia realmente haverá essa indústria activa e saudável, pelo menos confinada ao território nacional.


Tribo da Luz - Como achas que a música eletrónica [ou electro-pop] se enquadra atualmente em Portugal? É ainda algo para um público em específico?
:Papercutz - Penso que num país pequeno como o nosso não faz muito sentido de falar de um público para um género específico. Cada banda parece-me ter um público que vai construindo com o tempo, muitas vezes independente do estilo de música que praticam. No nosso caso em particular, é provável que nem toda gente em Portugal venha a gostar do que fazemos mas isso não é necessariamente algo negativo.


Tribo da Luz - Há uma audível diferença de ambiente entre este trabalho e o prévio [Lylac]. A história por trás da criação de «The Blur Between Us» relaciona-se com as tuas vivências pessoais?
:Papercutz - Todos os álbuns se baseiam nas minhas vivências pessoais e outras ficcionadas por influência de cinema, literatura e do que vou observando em outros próximos de mim.


Tribo da Luz - Pode-se dizer que é um álbum mais crescido? Mesmo em termos profissionais?
:Papercutz - Este álbum inclui uma visão alargada do que a música dos :PAPERCUTZ pode ser, inclui o maior desafio profissional até agora, um trabalho que envolve várias pessoas e nacionalidades, feito entre Portugal e os Estados Unidos. Pessoalmente, é um resultado de um crescimento como músico cujo resultado está agora entregue a quem o ouvir.

Tribo da Luz - Nota-se a introdução de elementos mais analógicos neste último trabalho. Como foi a adaptação?
:Papercutz - Analógicos e acústicos. Não foi fácil mas felizmente tive a ajuda de um compositor na orquestração das cordas e metais, o Osvaldo Fernandes e do produtor Chris Coady na inclusão de sintetizadores analógicos na instrumentação electrónica. São processos que quero repetir no futuro, sobretudo o último, talvez criar temas num formato mais simples, com instrumentos puramente analógicos com todas as suas falhas, gravados em poucos takes.


Tribo da Luz - A introdução dos mesmos foi propositada ou algo mais intuitivo?
:Papercutz - Um misto de ambos. A ideia era criar uma música mais orgânica.


Tribo da Luz - Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Chris Coady?
:Papercutz - Foi enviada uma demo do que viria a ser o álbum à manager dele. Sendo algo difícil de acontecer, porque tem uma agenda complicada e não costuma trabalhar muito com bandas fora dos Estados Unidos, voltou a entrar em contacto connosco com o interesse em trabalharmos juntos, porque a sonoridade do álbum referencia bandas que são das suas preferidas de sempre e conseguiu perceber que tinha uma visão interessante para o trabalho onde ele se integrava.


Tribo da Luz - Melhor concerto que fizeste até agora? E que assististe?
:Papercutz - São todos diferentes e especiais à sua maneira. Há de surgir um que supere todos os outros, talvez. Steve Reich, Casa da Música, Porto. Vou vê-lo em 2013 a Londres num projecto único.


Tribo da Luz - Alguma colaboração ou remix em mãos? Podemos esperar alguma coisa?
:Papercutz - Lucrecia Dalt, através do contacto da editora dela, com os quais já trabalhei (para a remistura de Heart Shaped Rock) e um novo projeto, Castratii com a bela voz da Leila Moss dos The Duke Spirit, pois partilhamos aspetos em comum e pelos vistos temos o mesmo promotor internacional que lançou a deixa. Infelizmente, tive que recusar outros convites por agora. Entretanto em termos de :PAPERCUTZ vão surgir as últimas remisturas oficias dos álbum e o videoclip do single do álbum «Rivers».


Tribo da Luz - Qual o melhor snack para comer no estúdio?
:Papercutz - Se for de madrugada, 'tacos'. Dá forças e espírito para o resto do trabalho


Tribo da Luz - O que estás a ouvir agora?
:Papercutz - No outro dia cheguei a casa tarde (gosto de trabalhar à noite no estúdio) e estava a dar uma repetição de um B-Movie de nome "Bloodsport", um filme do Van Damme (risos) e ficou na minha memória a banda sonora. Procurei nos dias seguintes e descobri o compositor, Paul Hertzog e os seus temas instrumentais, os mais interessantes da banda sonora, no Youtube. Tem aquele lado kitch de muita da música electrónica dos 80s e que torna a adesão fácil e divertida mas também umas sonoridades orientais que me agradam... uma espécie de um guity pleasure, embora todos os prazeres sejam bem vindos. Por vezes, ouvir música que realamente gosto e mexe muito comigo torna-se difícil porque estou sempre a tentar processar activamente o que ouço.

Recorda a crítica da Tribo da Luz ao álbum «The Blur Between Us», aqui.

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Entrevista por: Carolina Rocha
Imagem: MySpace Oficial
Banda: :Papercutz

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