[REPORTAGEM]: Dead Combo | Aula Magna | 3 de Maio de 2012



Poucos minutos antes da hora marcada para o início do concerto, ainda havia uma fila que dava duas voltas à escadaria principal da Aula Magna. Passados vinte minutos das 22H, os Dead Combo apresentavam-se perante uma plateia repleta, ansiosa de ouvir as canções do último álbum «Lisboa Mulata».

“Rumbero” e “Sopa de Cavalo Cansado” deram início aos festejos, animando os presentes que timidamente se começavam a movimentar nos seus lugares.

Uma enorme sombra projectada no fundo do palco mostrava a figura de perfil de Tó Trips, mestre-de-cerimónias por excelência, com o seu ar gingão característico, enquanto Pedro Gonçalves permanece sempre mais discreto mas nem por isso menos presente. Com poucas luzes a iluminar o palco e num ambiente muito íntimo, “Cachupa Man” é o primeiro tema retirado do álbum «Lisboa Mulata» a ser apresentado. Quatro colunas de fumo dispostas pelo palco produziram um ambiente místico, juntamente com as rosas espalhadas pelo chão.

A cada música tocada, Tó Trips enunciava o seu nome e a história da sua criação. “Anadamastor”, ficámos a saber, é dedicada a uma rapariga chamada Ana que trabalha no conhecido Adamastor, no Largo de Sta. Catarina. “O Assobio” é uma homenagem a um assobio característico de Vasco Santana, aqui imortalizado numa canção dos Dead Combo. Ambas as músicas, uma antiga e uma mais recente, foram muito bem recebidas pelo público; como aliás aconteceu ao longo de todo o espectáculo. E é de facto incrível como uma banda unicamente instrumental consegue cativar um público tão vasto e tão fiel.

A setlist contemplou todos os momentos da carreira da banda, numa ordem muito cuidada, para que as novas composições convivessem em perfeita harmonia com as antigas. Apesar das diferenças notórias entre as composições mais antigas e estas novas de «Lisboa Mulata», as primeiras mais obscuras e intensas e as últimas mais limpas e claras, todas se completam. Até porque nos novos temas também há espaço para experimentação q.b, como foi o caso da interpretação ao vivo de “Aurora em Lisboa”, onde assistimos a um Tó Trips quase que a exorcizar os seus demónios juntamente com a sua guitarra.

Mais uma figura lisboeta revisitada, desta feita Pacheco, antigo guitarrista da fadista Hermínia Silva, “que gostava de beber uns copos”, que teve direito a uma música homónima feita para si.

Cátia Leonardo e Ingrid Fortes juntaram-se aos músicos em palco para os coros, com especial destaque para o seu trabalho em “Like A Drug”. Sensivelmente a meio do concerto, “Esse Olhar Que Era Só Teu”, uma interpretação de uma canção de Amália Rodrigues, tornou-se num dos momentos altos do concerto, tal era a imponência da composição.

Podia quase dizer-se que este era um concerto dedicado à cidade de Lisboa e às suas personagens, Vasco Santana, Hermínia Silva, Amália Rodrigues e Camané, convidado especial para “Ouvi O Texto Muito Ao Longe”. Uma letra soberba de Sérgio Godinho foi declamada com mestria pelo fadista, ao fundo do palco, visto apenas na penumbra. De arrepiar foi também a sua interpretação de “Inquietação”. O poema de José Mário Branco ganhou uma dimensão enorme, graças à potência da voz e do sentimento de Camané.

Como a noite era, de certo modo, de celebração, a festa não podia ficar completa sem a ajuda da Royal Orquestra das Caveiras que subiu ao palco para não mais o abandonar e daí para a frente foi um desfilar de clássicos dos Dead Combo, em plena consagração da dupla. A energia e a força de canções como “Manobras de Maio” ou “Mr. Eastwood” foram bonitas de se ver e de sentir.

Apesar disso, a setlist mostrou-se enorme, e em algumas alturas saturante. A cerca de vinte minutos do fim, havia já muita gente a abandonar a sala e notava-se uma certa desconcentração por parte do público em geral. Um concerto demasiado longo mas que mostrou os Dead Combo no seu fulgor máximo, com um excelente álbum debaixo do braço para apresentar e que ontem à noite conquistou a sua musa: Lisboa.


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Texto: Inês Mendes
Banda: Dead Combo
Local: Aula Magna, Lisboa
Data: 3 de Maio de 2012

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