[REPORTAGEM]: Simone | Coliseu de Lisboa | 12 de Abril de 2012



Com o público a chegar leve, levemente, como quem não quer a coisa. 45 minutos antes de começar, meia dúzia de espectadores aninhava-se nos seus lugares para ver o concerto de Simone Bittencourt de Oliveira “Especial Pra Você”, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no passado dia 12 de Abril. Aos poucos, a mais emblemática sala de espectáculos lisboeta encheu a plateia e grande parte da bancada para receber a cantora baiana.

E após chamamento via assobios e palmas, Simone apareceu, vestida de branco, como é habitual, e depois de atar um lenço branco ao seu microfone, começou logo a cantar.

Só escutando, nada parece inesperado na cantora, na facilidade da sua voz, da sua rouquidão ao conseguir alcançar a harmonia. Simone já há muito tempo que oferece este talento à música brasileira e mundial, mas é na ligeireza do seu porte, nas mãos ondulantes e braços no ar, que uma presença tão marcante da música acompanhada pela língua portuguesa, ao encontrar-se com a crueza da sua natureza, consegue manter a atenção das pessoas.

Admitiu conhecer aquele palco bem, mas não teria sido preciso fazê-lo quando ao acabar o tema “Sangrando” rapidamente começa a bater os pés no chão a acompanhar a típica debandada que substitui os aplausos mais efusivos no Coliseu dos Recreios. Os fãs não resistem em oferecer-lhe logo flores antes do concerto prosseguir. Deparada com problemas técnicos, senta-se no palco com pernas cruzadas de modo indiano enquanto os técnicos tentam resolver a situação; comenta a sua última visita a Portugal, no mesmo local, no mesmo dia, no ano passado. “Nós também cá estivemos!” grita alguém mais próximo do palco. Simone continua a dizer que é uma honra ter estado no Coliseu um ano antes, como também o é neste. A mesma pessoa que gritou acrescenta “e para o ano há mais!” causando a gargalhada geral.

É esta familiaridade a que Simone nos habitua muito rapidamente. O público acarinha-a e ela graciosamente recebe-o e retribui através de conversas [chegando a pedir a alguém para não gravar o concerto ao gracejar “se estivesse a filmar uma relação, chega um ponto em que ou se preocupa com a filmagem ou com a actuação”] como se a audiência fosse amiga sua de longa data, para falar da boa comida e do bom vinho português. De facto, não seria de espantar que a cantora o considere. Entre o tema “Cigarra”, aquele cujo nome copia a sua alcunha, saltou para o meio da plateia, procurou pelo amigo Luís Represas, que se encontrava no meio do público, fez um pequeno dueto entre abraços e beijos. Enquanto voltava para o palco, fez o Coliseu inteiro parecer um campo no meio do Verão com cada boca a sussurrar o som das cigarras a seu pedido. É uma condutora entre os membros da sua banda e os membros da audiência. “Estou tentada a tomar um copo de vinho!” admite, e parte para jingar mais uma vez. Nesses momentos, a cantora de 62 anos parece uma rapariga de 17 a dançar e a cantar como se estivesse no seu quarto, com o rádio a tocar Chico Buarque, e nós estivéssemos sentados no tapete num dos cantos, a balançar o pé, e de cabeça inclinada para o lado enquanto olhamos, escutamos e sentimos.

Também como sempre, Simone começa a oferecer rosas brancas aos membros do público quando fecha a actuação. Este concerto, como o nome indica, é uma oferenda especial da cantora aos seus admiradores, que a seguem e seguirão durante o resto da sua carreira. O próprio line-up de músicas terá sido submetido a votação pelos fãs, pelo que Simone considera este alinhamento especial. O encore foi simples mas tocante, em que sozinha, Simone bate num pequeno pandeiro com dois dedos enquanto que murmura de forma cantada, a sua voz chegando a uma intimidade e sensibilidade que fez prender o fôlego a muita gente, o tema “Foi Deus”, de Amália Rodrigues. É uma actuação no geral em que uma pessoa sabe o que deve oferecer, e como fazê-lo. E de forma preciosa, mas muito fácil, Simone conseguiu transformar um dos maiores palcos do país numa sessão muito intima, muito próxima, algo que só mesmo uma personalidade forte e emotiva consegue fazer.


Alinhamento:
Sangrando
Começar de Novo
Face a Face
Atrevida
Lá vem a Baiana
Fullgás
O que Será (à Flor da Pele)
Jura Secreta
Encontros e Despedidas
Cigarra
Alma
Eu Sei Que Vou Te Amar
Iolanda
Outra Vez
Sob Medida
Migalhas
Loca
Deixa Eu Te Amar
Ive Brussel
Tô Voltando
~ENCORE~
Foi Deus



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Fotografia: Joana Sousa
Texto: Carolina Rocha
Cantora: Simone
Local: Coliseu de Lisboa, Lisboa
Data: 12 de Abril de 2012

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