Muitas raparigas de franja e piercings, muitos rapazes de barba aparada e óculos de massa grossa. O MusicBox encheu para receber os We Have Band na passada quinta-feira, 29 de Março, com um público selecto que já sabia para o que vinha e sabia o que queria.
“São quatro hoje? Eu pensava que eram só três,” aponta uma rapariga que olha para os postos no palco antes do concerto começar, que indicavam quatro locais específicos para cada membro da banda. O trio britânico, composto por Darren Bancroft e o casal Thomas e Dede Wegg-Prosser, faz a digressão com um baterista que só não faz parte da mobília porque Darren é quem toca a bateria na formação dos álbuns. E estes senhores trabalham muito, não têm parado, tendo viajado por toda a Europa desde o início de 2012, não mostrando nenhuma intenção de parar de o fazer por algum tempo.
Voltam a Lisboa depois de terem apresentado o seu primeiro álbum, «WHB», naquele preciso palco, em Novembro de 2010. Nessa noite, os membros da banda estavam vestidos de branco, Dede escondia os olhos por trás de uma farta franja, e Thomas usava boné. Desta vez, cada um veste-se como quer, Dede, pequena mas capaz de mostrar uma energia imensa ao dançar com as baquetas em punho durante todo o concerto, tem os olhos felinos pintados de escuro por entre o cabelo, agora ondulado. Darren sorri, ri, fala com um público que reconhece e fica feliz por rever: “Vocês parecem-me okay, parecem-me felizes a partir daqui”. Thomas pega no baixo, coloca-se em posição de ataque, pés separados uns dos outros. Intenso.
A energia que vem do palco parece às vezes demasiado arrebatadora, um pouco desorganizada, e a intensidade da percussão (que vai desde a forte bateria para o simples mas marcante “cowbell”), do baixo e dos sintetizadores podia atingir demasiada imponência para as partes mais vocais, mas parece funcionar ao vivo, especialmente quando cada membro cantava sozinho. Foi nesses momentos que Dede surpreendia, com a voz aguda mas enérgica à qual nos habituamos no álbuns, depois de se manter discreta quando apenas se juntava ao coro. Mesmo assim, a banda não se parece importar com o que muita gente pode considerar um ponto fraco. Já faz parte.
Os We Have Band parecem ter gosto em levar o público numa sequência de altos e baixos, entre uma montanha de hiperactividade disco pop que põe até o mais sisudo a balançar a cabeça com temas como “Whb?”e “How to Make Friends”, e até debaixo de água, uma espécie de post indietronica muito mais pesada, com luzes a diminuir a favor do ambiente que querem transmitir.
A viagem atribulada deve-se a uma mistura de temas ente os dois álbuns. O primeiro, mais electrónico, anguloso e funky, era produto da banda a divertir-se. O segundo já é fruto de momentos mais introspectivos, mais escuros e mais elaborados, em que andar aos saltos já não basta para ser considerado pé de dança adequado. Eles desdobram-se em agradecimentos em inglês e português, sorriem, e confessam, antes de tocar o tema “Watertight”, o primeiro single do segundo álbum «Ternion»: “Esta canção foi escrita exactamente no outro lado da rua, por isso é um tema especial”. Aí, as luzes são apenas brancas, piscando ocasionalmente, iluminam a banda quase só quando tem que ser.
O público parece não se importar com esta montanha russa, canta a letra, dança, salta, balança, põe os braços no ar. O Music Box está cheio mas quase ninguém se vira para o bar para outra bebida durante muito tempo: é uma audiência completamente concentrada naquilo que os We Have Band tiveram para oferecer. Quando Darren anuncia a última canção (e fica a pergunta, será que alguém ainda acredita nisso?), o público insiste. Eles voltam para o levar um pouco mais além, chegando a levantar o ânimo ao rubro com o tema “Oh!”.
Foi um concerto rápido, aparentemente desorganizado, mas intenso e que nos deixa um sabor de familiaridade no final. Fica a pergunta: qual é a canção que começaram a escrever no Cais do Sodré desta vez?
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Fotografia e Texto: Carolina Rocha
Agradecimentos: CTLISBON
Banda: We Have Band
Local: MusicBox, Lisboa
Data: 29 de Março de 2012
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