[REPORTAGEM]: Male Bonding | MusicBox | 21 Janeiro 2012



É português dizer que “devagar se vai ao longe”. Este é, pelos vistos, um conceito que os Male Bonding desconhecem, ou então não são adeptos. “Easy does it” não pertence ao palco, e foi isso que eles demonstraram no palco, no passado Sábado, 21 de Janeiro, no Musicbox, trazidos pela Heineken Sessions.

“Quero todas as canções, que toquem todas!”, podia-se ouvir enquanto o público espera pelo concerto. Apesar de só encher metade do MusicBox, a expectativa é alta entre os fãs. Noise Pop ou Punk Rock, seguir-nos pelo estilo dos membros do público português não é uma boa estratégia para tentar etiquetar o estilo musical da banda; tentar nomear o estilo musical com o estilo dos seus membros, que passaram pelo meio da plateia quinze minutos antes do concerto, também não será a melhor abordagem.

De facto, a camisa abotoada do baixista Kevin Hendrick e o barrete do vocalista John Arthur Webb , nada nos diz sobre a cavalgada incessante que dispõem, sobre o ritmo incansável do baterista Robin Silas Christian. Abrindo com “Tame the Sun”, do último álbum «Endless Now», o trio londrino que foi considerado pela Pitchfork e pelo The Guardian como uma das melhores revelações de 2011, só parou após a terceira música, o tema “All Things this Way”, retirado do primeiro trabalho da banda sob a égide da SubPop, «Nothing Hurts».

A setlist englobava tanto o primeiro como o segundo álbum, cortando o desaforo de «Nothing Hurts» com uma falsa sensação de segurança que alguns temas de introspecção difusa ainda post-punk de «Endless Now».
De forma subtil, tentam o primeiro contacto com o público, mas mantêm-se discretos, longe da confiança de bandas habitués do público português, mas sem parecer demasiado tímidos.
E talvez seja essa a essência dos Male Bonding. Agarrados a guitarras remendadas com ligaduras ou a entregar cada grama de energia a cada batida da bateria, os britânicos não têm qualquer problema em expor a sua energia. Os rapazes não choram, mas estes mostram que pelo menos ficam confusos e encontram momentos de frustração e tensão e confessam-se na letra das suas canções (“All this won't last forever”, canta John Webb com uma voz estranhamente suave ao lado das guitarras arranhadas). E é talvez um mecanismo de defesa criado numa amizade masculina que as guitarradas se mantêm violentas e sem parar, como se as Fender e as Gibson fossem as únicas confidentes e não o público. Uma forma de dizer “aqui estão os meus sentimentos, mas vejam como lido como isto e não se dignem a dizer que é lamechas”.

Devagar se vai ao longe, e como público português, só após umas duas canções e após alguém ter gritado “Ainda não há mosh pit?” é que se criou uma mini sessão pelo canto direito da plateia. No entanto, como se consciente do que está entre as linhas das tablaturas, não durou muito, ficando mais pelo verdadeiro headbanging. Quando soou “Year’s Not Long”, o público saltou, bateu palmas, cantou a letra.
O ambiente era reminiscente de um grunge que não era grunge, um noise que não era noise, um pop rock que nem era uma coisa nem outra. Só se tem a certeza de que o ritmo não parou. Webb tem um semblante concentrado na música e na letra, e a sua dedicação é um crescendo autêntico que só culminou no encore depois de atirar com a sua guitarra ao chão (estavam a perguntar-se sobre as ligaduras?). Os pés de Hendrick não paravam enquanto arrancava as notas, e Christian chegou a partir as baquetas.

São rápidos, são barulhentos, mas são bons, e acima de tudo, nota-se uma cumplicidade entre os membros da banda. E pelo menos o público conseguiu arrancar uma ligação à banda: primeiro disseram que Londres (saudades já da casinha depois de uma tour europeia e americana) era a nº 1, e que Portugal ficava a um módico segundo. Depois, vá, lá nos concederam um 1º lugar, que talvez prometa um retorno em breve.
Devagar pode-se ir ao longe, mas a dar este tipo de entrega em palco numa razia de rock? Pode-se ir longíssimo.

Alinhamento:

Tame the Sun
Paradise Vendors
All Things This Way
What’s That Scene
Channeling Your Fears
Your Contact
Dig you Out
Crooked Scene
Franklin
Weird Feelings
Bones
Year’s Not Long
Can’t Dream
Pumpkin



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Fotografia e Texto: Carolina Rocha
Agradecimentos: MusicBox
Banda: Male Bonding
Local: MusicBox, Lisboa
Data: 21 Janeiro de 2012

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