[REPORTAGEM]: Vodafone Mexefest (1º Dia) | Lisboa | 2 de Dezembro 2011



O Festival de Inverno que este ano voltou com novo nome e mais espaços, prometeu que "de palco em palco a música mexe em Lisboa", e cumpriu. A afluência foi enorme e a Tribo da Luz esteve lá para te contar como foi.


Julie & The Carjackers | Restaurante Terraço Hotel Tivoli

Coube aos Julie & The Carjackers dar o primeiro concerto do Vodafone Mexefest no Terraço do Hotel Tivoli. E pontualmente, às 20h45 lá estavam eles para nos brindarem com o que alguém no público descreveu de "música de primeiro amor".
Tiveram um início lento, com uma balada, brindado pelas constantes piadas do vocalista João Correia que parece estar sempre mais desanimado do que realmente está. Sabemos que é de feitio, não há nada a fazer. "Agradecemos a todos os presentes por terem vindo aqui ver-nos e à Vodafone por nos convidar", dizia no início do concerto. E devem estar mesmo agradecidos, pois não é todos os dias que uma banda com um CD saído há menos de um mês é convidada para tocar num festival desta envergadura.
Talvez por isso, os Julie, como são conhecidos pelos amigos e fãs, tenham estado bastante empenhados neste concerto. Notou-se algum nervosismo no início e até uma certa separação entre a secção raparigas e a secção rapazes. Elas, duas, sozinhas no lado direito limitando-se ao seu espaço e sem muita interação com eles, e eles na outra ponta do palco divertidíssimos com o que estavam a fazer.
No entanto, ao longo dos 45 minutos que tocaram, estas diferenças foram-se esbatendo e de pouco mais de meio em diante já ninguém ouviu canções possíveis de figurar na banda sonora de um qualquer filme romântico passado em Paris. Os coros simples e harmónicos e os arranjos pormenorizados continuavam lá, mas partir de "As We Walk Down That Road" o concerto deu uma volta sobre si mesmo e conseguimos ver uma banda muito mais descontraída e confortável. A loucura de guitarras e arranjos sintetizados ajudou à festa e ao nosso dispor tínhamos uma banda que nem só de canções "bonitinhas" se compõem. O final em grande com "Wait By The Telephone" conquistou os presentes que até aí ainda não estavam rendidos.




Luísa Sobral | Igreja de S. Luís dos Franceses




Josh T. Pearson | Sociedade de Geografia de Lisboa

Durante duas noites, o Festival Vodafone Mexefest fez um take-over momentâneo às mais mediáticas salas culturais da baixa Lisboeta, para oferecer uma panóplia de concertos dentro de um género de música mais subversivo. E a primeira noite deste festival ofereceu algumas boas actuações. Comecemos por nos situar na Sociedade de Geografia de Lisboa, onde encontrámos um Josh T. Pearson muito bem disposto, com um humor auto pejorativo, sarcástico e bastante apelativo, que até por si só, era capaz de cativar a presença de quem não conhecia a sua música. Sejamos sinceros, ouvir um músico começar a sua actuação com um “Estão todos confortáveis? Ninguém precisa de ir à casa de banho?”, é de esboçar de imediato um largo sorriso rasgado que, ao contrário de “nem aquece nem arrefece”, aqui aquece e enternece, para nos colar aos devidos lugares e ver e ouvir mais a folk que este cantautor tem para nos contar.


Bebe | Cinema São Jorge - Sala I

A Sala 1 do São Jorge aqueceu com a pop caliente de Bebe, cantora e actriz espanhola que serviu a uma audiência bem composta uma “paella” musical condimentada, com travos de funk, soul e até mesmo algum rock, que meteu grande dos presentes a aquecer o passo.


Eleanor Friedberger | Casa do Alentejo

A metade dos Fiery Furnaces veio ao Vodafone Mexefest encher a Casa do Alentejo. E por melhor acústica e estatuto que esta sala tenha, não foi suficiente (pelo menos de início) para quem a quis ouvir. Poucos minutos depois do concerto ter começado ainda havia um mar de gente à porta à espera de poder espreitar a dona desta voz poderosa.
O ambiente até podia ter sido intimista, daqueles que ficam na memória, não tivesse sido o constante entrar e sair de pessoas, o que quebrou, sem dúvida, parte da mística.
Eleanor Friedberger deu um bom concerto. Conversadora e simpática, fez-se acompanhar por músicos competentes, à altura das suas composições a solo.
E assim às 22.15h o chão do restaurante da Casa do Alentejo tremia com o seu concerto e por esta altura (sensivelmente a meio) a sala já se encontrava mais vazia e o público mais disperso. E o público dançava.
Um concerto honesto e sem muito de acessório, como este tipo de música se quer mas que soube a pouco. Talvez numa próxima vinda a Portugal se possa comprovar de uma vez todo este potencial.




Capitão Fausto | Sala SBSR - Estação Restauradores

O concerto dos Capitão Fausto começou "a abrir” e assim foi até ao fim. Muito enérgico desde a primeira música, os fãs que compunham as primeiras filas passaram o tempo todo aos saltos, o que é sempre bom de se ver perante uma banda portuguesa minimamente recente.
Com o álbum «Gazela» debaixo do braço, os Capitão Fausto estiveram no Metro dos Restauradores, que se foi compondo no decorrer do concerto, tendo dado um dos concertos mais rock da noite de 2 de Dezembro. Sempre simpáticos e humildes como já se sabe, não se fartaram de agradecer a oportunidade de tocarem no festival e a presença de todos.
E o que fez deste concerto um bonito momento de música ao vivo foi perceber que quem ali estava para ver Capitão Fausto não era por mera curiosidade ou por não ter concerto melhor para ver à mesma hora. Quem ali estava conhece-os, gosta e sabe muitas das letras de cor, dança e canta de forma desinibida.
Estes cinco meninos que compõem os Capitão Fausto foram, assumidamente, influenciados, por exemplo, por coisas tão distintas como Beatles, Pink Floyd, Jimi Hendrix e Arctic Monkeys. Daí que a fórmula que apresentam não seja nova mas a roupagem que lhe dão, sim. As composições adolescentes (nada de espantar, estes meninos têm entre 19 e 22 anos) disfarçam-se de música adulta e isso só lhes fica bem.
Como não podia deixar de ser, em concerto rock que se preze, houve tempo para dois momentos mais instrumentais com solos de guitarra e bateria para dar um ar da sua graça. Já perto do fim, os Capitão Fausto mostraram que têm a lição bem estudada: "queremos dedicar esta música a um grande nome da música portuguesa. Vocês podem não saber, mas é: José Cid". Os espectadores adoraram. Essa e a "selva latina para dançar" que se seguiu.
Esta banda é um nome promissor no panorama português e pelo menos público seguidor não lhes falta. E se o público quer Rock 'n' Roll, os Capitão Fausto dão.




S.C.U.M. | Cinema São Jorge – Salas II

A sala 2 do São Jorge, recebeu os jovens londrinos S.C.U.M (banda que, tanto visualmente como sonoramente, mais parece uma viagem no tempo à adolescência de uns The Horrors, ainda muito verdinhos). No entanto, apesar de não terem tanto publico, ofereceram uma actuação bastante interessante do ponto de vista experimental, de um rock atmosférico, com bastante engrenagem de sintetizadores e distorção de guitarras.


Fanfarlo | Cinema São Jorge - Sala I

A sala Manoel de Oliveira no S. Jorge encheu para ver os londrinos Fanfarlo. Depois de uma passagem pelo Festival Sudoeste (em 2008) e pelo Lux (em 2010), voltaram a Portugal ainda com o álbum «Reservoir».
Uma vez que o Vodafone Mexefest se encontrava esgotado, é normal que algumas salas se encontrem lotadas e este foi o caso do concerto de Fanfarlo onde houve muita movimentação de entradas e saídas do público.
Algum público de pé recebeu a banda e dançou ao som das suas composições a puxar para o folk e para o indie pop. Músicas simples mas com precisos (e preciosos) arranjos, especialmente por estarmos perante uma banda verdadeiramente multi-instrumentalista (violinos, saxofones, trompetes, bandolins, entre outros). O toque british sempre presente torna este coletivo em algo de singular muito agradável ao ouvido.
No entanto, e como na maioria dos concertos deste género que passaram neste dia pelo Vodafone Mexefest, o incessante entrar e sair de pessoas quebra muito a envolvência com as bandas. O conceito do Vodafone Mexefest, pescado do falecido Super Bock em Stock, é bom mas a concretização nem sempre favorece os espetáculos em si. Em Fanfarlo isso foi evidente.
A juntar a isto, o concerto foi também por si só perdendo dinâmica, enterrando-se em muitos momentos instrumentais demasiado longos e com a própria banda muito pouco comunicativa.
Perto do fim uma canção (quase) à capela salvou um pouco um espetáculo que foi perdendo força gradualmente, não deixando de ser competente e envolvente.




Junior Boys | Teatro Tivoli

Ao atravessarmos a Avenida de Liberdade, vindos do S.Jorge, ecoava a electrónica estridente dos Junior Boys numa sala repleta que, mais parecia uma gigantesca pista de dança, onde o duo canadiano apresentou um set com o melhor de cada um dos seus quatro álbuns, não faltando alguns dos grandes trunfos do aclamado «Begone Dull Care», como canções do mais recente álbum deste ano, «It’s All True».


Spank Rock | Cabaret Maxime

Pode-se mesmo dizer que a festa esteve a aquecer durante parte da noite mas, e o seu grande ponto de ebulição esteve reservado para o Cabaret Maxime, num concerto que foi o culminar explosivo deste primeiro dia de festival. O acto é Spank Rock e a festa foi megalómana a todos os níveis. Quem teve a sorte de estar presente, foi de imediato submerso numa catarse electrónica do melhor que o hip hop vanguardista tem para dar. As hostes foram abertas com uma agradável surpresa, um sample da parte inicial de “Last Night at The Jetty” do vangloriado mestre do experimentalismo psicadélico, Panda Bear, que nesse momento devia estar de orelhas quentes ali bem perto no seu habitat natural, denominado de Bairro Alto. Logo após entra o grande mentor do projecto, Naeem Juwan, como que um ninja classy, com bastante stealth, sorrateiramente vai versando logo as letras da primeira canção. Uma actuação que brindou a audiência, não só com o alinhamento do mais recente álbum «Everything Is Boring and Everyone Is a Fucking Liar», mas também «YoYoYoYoYo» onde homenageou-se um grande produtor em “Rick Rubin”. Contou-se a história da senhora da noite “Backyard Betty” e também o single do novo álbum «#1 Hit». Uma actuação que foi contagiando o público aos poucos, ao ponto de evocar mesmo a uma invasão de palco, fechando esta primeira noite de festival com chapa cinco.


PAUS | Sala SBSR - Estação Restauradores

O concerto de PAUS no Vodafone Mexefest podia ser descrito numa destas palavras: electrizante, contagiante ou poderoso... Mas qualquer um destes adjectivos ficaria sempre aquém do que realmente aconteceu. Os PAUS já não são aquela banda iniciante de há um par de anos atrás. Agora enchem salas (e bem que mereciam uma sala maior do que este cubículo improvisado do Metro em que tocaram) e têm cada vez mais público. E assim, este local nos Restauradores foi pequeno demais para todos aqueles que quiseram (re)ver o fenómeno PAUS.
Vieram ao Vodafone Mexefest apresentar o novo CD e fizeram-no com uma setlist cuidadosamente escolhida para que tudo encaixasse na perfeição. A dupla Quim Albergaria e Hélio Morais não deixa ninguém indiferente com a sua bateria siamesa e o entusiasmo com que tocam é notório.
Depois de um desfilar de músicas do novo CD, o single "Deixa-me Ser" é o momento mais esperado. E o mais engraçado também. Cientes de que os espectadores mais afastados dificilmente viam o palco, a ordem vem do palco: "nesta, vamos seguir o exemplo dos Buraka Som Sistema. Nesta música, só nesta, quem está à frente senta-se no chão". Os da frente acharam piada, os de trás agradeceram.
Também houve direito a uma música nova e é bom saber que apesar de o CD ter acabado de sair para as lojas, a banda não pára de compor. Perto do fim os PAUS lançaram o desafio "Quem dançar mais livremente esta música ganha um pack de merchandise dos PAUS: uma t-shirt, um mikado e um pequeno linguado do Makoto". Ficou por apurar o vencedor, mas ficou o desafio para os mais desinibidos.
O fim do concerto viu meia bateria agarrada pelo público enquanto Quim Albergaria continuava a tocar. Entre as novas composições faltaram outras antigas como “Lupiter Deacon”, por exemplo, mas para um concerto no Metro dos Restauradores também não se pode pedir tudo.




REPORTAGEM VODAFONE MEXEFEST 2011:
1º Dia (2 Dezembro 2011)
2º Dia (3 Dezembro 2011)


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Fotos: Joana Sousa e em breve
Texto: Inês Mendes e em breve
Agradecimentos: Música no Coração
Festival: Vodafone Mexefest
Local: Lisboa
Data: 2 de Dezembro 2011 (1º dia do festival)

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