[REPORTAGEM]: Anna Calvi | Hard Club | 12 Setembro 2011



«A Anna é a nossa toureira preferida.», comenta um admirador dedicado com o vinil da cantora debaixo do braço. Os amigos - ao seu redor - abanam a cabeça em sinal de conformidade. De facto, a enchente na sala 1 do Hard Club demonstra bem o espanto e o burburinho que Anna Calvi suscitou por esse mundo fora com o seu álbum de estreia, em nome próprio.
Muitos eram os que estavam ali porque queriam tirar teimas, saber o porquê de tantas comparações: ela é PJ Harvey, Siouxsie Sioux ou até Jeff Buckley reencarnado em corpo de mulher. Uma mescla de estilos que faz estremecer até os mais esquecidos nestas andanças. Pouco passava das 22h quando Anna Calvi sobe ao palco de guitarra em punho, emanando elegância e sensualidade. O vermelho – a cor dominante – espalhou-se por toda a sala e sugeriu sem demora o pecado original ou, tão-somente, relembrou o universo romanceado do flamenco. O aplauso impaciente e demorado foi indício de uma noite triunfante provando que os ânimos só acalmaram ao som de “Rider To The Sea”, isto porque o dramatismo tomou conta da guitarra e a postura de Anna assumiu contornos cinematográficos. A partir dali foi uma actuação em crescendo. A cantora despiu a pele de mulher fatal apenas quando se dirigiu ao público e ninguém diria que por detrás daquela voz assombrosa existe um sorriso tímido capaz de impressionar pela sua fragilidade. Ao vivo, Anna Calvi transmite emoção e garra na mesma medida. Mas o que salta imediatamente à vista é a perícia com que manobra a guitarra – agradecemos, por exemplo, o poderoso solo de “Love Won’t Be Leaving” - como se a tensão atravessasse os seus dedos e ganhasse vida em acordes furiosos e lascivos que atravessam o espaço.
Durante o espectáculo (que durou aproximadamente uma hora), Calvi agradeceu com simpatia e, além de percorrer os temas já conhecidos do álbum, apresentou também dois inéditos e uma versão de Elvis Presley. Contudo, foi com “Desire” (single de estreia) e “I’ll Be Your Man” que o público mais se manifestou, entoando as letras com convicção e abanando os ombros em jeito de dança inesperada no deserto. Sobre Anna Calvi podem escrever-se rios de tinta. A sua curta e fulminante carreira continua a dar azo a comentários que têm tanto de injusto como de surpreendente. Uma coisa é certa: já ninguém lhe tira aquele domínio vocal e muito menos a atitude segura que ela tão bem incorpora nos seus espectáculos, mesmo com a doçura quase escondida. Porque a aura de uma artista em clara ascensão também se alimenta dessas transparências tentadoras. Depois desta noite assegurámos que Anna Calvi vai dar que falar e esses rumores – sejam eles bons ou nem por isso – vão perdurar por aí.

Na primeira parte do espectáculo estiveram os portugueses Dear Telephone, fundados em 2010 e compostos por André Simão (voz, baixo e guitarra), Graciela Coelho (voz), Paulo Araújo (teclados, saxofone) e Pedro Oliveira (bateria). O ep de estreia chama-se Birth Of A Robot e saiu em Março deste ano. Pela quantidade de pessoas a assistirem ao concerto, podemos dizer que este grupo de amigos reúne já um considerável número de fãs. Com a ajuda de um clarinete, teclados, baixo e uma bateria possante, esta banda justifica o porquê de ser uma das revelações nacionais deste ano. Mais um nome a ter conta.

Alinhamento:
Rider To The Sea
No More Words
Blackout
I'll Be Your Man
First We Kiss
Surrender
Morning Light
Suzanne & I
Moulinette
Desire
Love Won't Be Leaving
~ENCORE~
The Devil
Jezebel




Para visualizar as galerias, deverá ter instalada a última versão do Adobe Flash Player



Voltar ao início


Fotos: Carina Guilherme
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Everything is New
Cantora: Anna Calvi
Local: Hard Club, Porto
Data: 12 Setembro de 2011

0 comentários:

Enviar um comentário