[REPORTAGEM]: Maria Rita | Casa da Música | 18 Julho 2011



Se de um espaço vazio se tratasse, não estaríamos a falar do espectáculo musical que Maria Rita pronunciara na Sala Suggia da Casa da Música. Onde o sentimento de ausência se escondia por detrás daquela enorme plateia. A voz que se soltou em Conceição Dos Coqueiros e Santana fazia prever que o momento principiara uma belíssima noite.

As notas percebidas pelos ouvidos, faziam recordar que aquela menininha que outrora andava ao colo de sua mãe – Elis Regina – se tinha tornado numa grande mulher. O potencial da sua escrita alcançada pela sua voz tornava-se plenamente visível, e Cúpido manifestou o desejo de se alcançar por “um segundo” a quietação do momento.

Numa tempestade de nevoeiro provocado pela máquina de fumo, faz com que Maria Rita proporcione uma ocasião de sorrisos ao proferir ”Gente não estou enxergando nada!”, e com a passagem da neblina o tom de conversa surgiu ”É um show muito exibido, um show muito solar, fazia a questão que fosse dessa forma, e quando o ciclo do Samba Meu encerrou e o que significaria umas férias para mim e eu disse óptimo vou plantar flores em casa, vou comprar um cachorro, vou pintar a parede do quarto, vou virar dona-de-casa. E o meu irmão disse ‘Não dura dois meses.’, e durou menos que dois meses eu comecei a ficar louca. Eu queria voltar para o palco, esse aqui é o meu lugar, eu sinto e me entendo melhor aqui e ficar muito tempo longe significaria uma certa ponta de tristeza. E então eu quis montar esse show de muitas canções que há muito eu não editava dos outros discos, canções de amigos que eu sempre cantarolo em casa mas que nunca encontraram um espaço nas tournées ou nos discos. É um show despretensioso, não tem uma imagem, enfim...é um show só nosso!”. Após estes minutos de intimidade, foi a vez de Maria Rita apresentar os seus “meninos” que a acompanham e que a conhecem musicalmente chegando apenas ”uma quebra de corpo, um cotovelo e um olhar”, no piano desde 2002 o Tiago Costa, no contrabaixo desde 2003 Sylvinho Mazzucca, e na bateria desde 2004 o Cuca Teixeira.

Nem Um Dia, lembra-nos Djavan numa interpretação única traçada pela Maria Rita que nos ia conquistando de tom em tom, seguindo-se Perfeitamente e Veja Bem Meu Bem. Se os casais que por ali pairavam questionavam O Que É O Amor, decerto que apreciaram a letra agarrando-a de mão em mão, entre olhares cruzados entre a pessoa que se encontrava ao seu lado e o palco. Maria Rita ia brilhando “mais que o Sol” com o seu vestido preto e os seus sapatos de salto alto que continham brilhantes, e onde os pés não paravam quietos naquele solo. Samba no pé e samba na alma.

O samba continuava a encher a sala de brio, Num Corpo Só, a chama ardente da energia expulsada pela artista através do balançar do seu corpo que se ia movimentando de passo em passo do lado esquerdo para o lado direito da sala, nunca esquecendo da plateia que ocupava o coro que se encontrava atrás do palco, tendo a preocupação de colocar os instrumentos dos seus músicos numa disposição agradável a todos.

E os traços de pura sedução envolveram-se na fragrância de Tá Perdoado, onde “a noite será maravilhosa”, e os arranjos concretizados enchiam-se de vocalizações improvisadas que soltavam o paladar da diversão. Em Maria do Socorro conquista o público com o seu ar de graça que eleva a sua expressividade, e o contentamento era notável, como se os pozinhos de magia caíssem do tecto daquela casa.
As palmas faziam-se acompanhar através de Cara Valente, e Maria ia piscando o olho aos seus músicos, dando aos presentes a alegria de estar a partilhar a excelência daquela frutuosa e divina peça da nossa noite.

Num duo de bateria e contrabaixo com os acordes suaves do piano de cauda, Maria Rita avança com Muito Pouco, deixando o público mais uma vez ao rubro. Os sussurros faziam-se ouvir lá de baixo, e o ambiente silencioso provocado pela luz despejada pelos projectores mudara de ritmo a certa altura com o compasso da melodia. Maria mostra até onde a sua voz tem asas para voar, e em Pagu remete-nos para a eloquência que Rita Lee nos oferece.
Na versão Só de Você destaca-se a voz incrível que nos faz delirar e viajar por cada nota que o piano acompanha, sentindo-se a vontade de dançar, de fazer do palco só nosso, como se fosse uma dança de conquista amorosa com a descrição que a letra nos dita.

E se o público já não estivesse loucamente apaixonado, rendeu-se à Agora Só Falta Você, e pela primeira vez olha-se para uma plateia inundada de energia e com o cansaço inexistente ao baterem palmas durante alguns segundos.
Caminho Das Águas, música de Rodrigo Maranhão que esteve presente neste mesmo mês na Casa da Música, é agora interpretada por Maria Rita, e os louvores são ouvidos e consumidos com os espectadores de pé, modulando a sua voz sobre as várias sílabas.

Como se tratou de Encontros e Despedidas, o comboio já assinalava a hora da partida, e as lágrimas que ocupavam o rosto da cantora sentiam-se à flor da pele, proferindo ”Para quem gosta do palco, uma plateia dupla é praticamente uma orgia”. O fim do concerto é ditado através do seu agradecimento profundo e de duas músicas d'O Rappa, O Que Sobrou Do Céu e A Minha Alma, deixando o samba de parte com nuances de rock alternativo.

O público em êxtase pede de volta a presença da artista na boca de cena com um início a capela do tema Não Deixe o Samba Morrer fazendo do palco o seu samba, lembrando as mães de santo. As estrelas espelhadas no chão elevam o seu significado de brilhantismo, e o silêncio na sala ficou instalado até que a banda surge no palco e começa com os acordes da melodia Coração Em Desalinho, e de repente uma fila começa-se a formar nas laterais da sala, onde o samba se perdia pelos movimentos corporais daquelas pessoas.

O cheiro das rosas entregues por uma espectadora à Maria Rita, contagiou o gesto representado numa forma de agradecimento calorosa e arrepiante que cada um prestou naquela hora. Através de uma ovação sem fim que deixara o rosto da artista iluminado.


Alinhamento:
Conceição Dos Coqueiros
Santana
Cúpido
Nem Um Dia
Perfeitamente
Veja Bem Meu Bem
O Que É O Amor
Cria
Num Corpo Só
Tá Perdoado
Maria Do Socorro
Cara Valente
Conta Outra
Muito Pouco
Pagu
Só De Você
Agora Só Falta Você
Caminho Das Águas
Encontros e Despedidas
O Que Sobrou Do Céu
A Minha Alma
~ENCORE~
Não Deixe O Samba Morrer
Coração Em Desalinho



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Fotos: Carina Guilherme
Texto: Maria Manuel
Agradecimentos: Espelho de Cultura
Cantora: Maria Rita
Local: Casa da Música, Porto
Data: 18 Julho de 2011
Site Oficial da Cantora: www.maria-rita.com

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