[REPORTAGEM]: Sufjan Stevens | Coliseu Porto | 30 de Maio 2011



Quem segue Sufjan Stevens de perto sabe que é um camaleão assumido desde tenra idade mas o que aconteceu no Coliseu do Porto está longe de ser previsível (ainda bem!) e mesmo numa plateia repleta de clareiras houve tempo para reflectir, cantar, dançar e pular até ao fim do mundo.

Pouco passava das 22h quando Sufjan Stevens entra em cena num palco apoteótico atulhado de músicos e instrumentos. Por esta altura ainda não sabíamos que estávamos prestes a entrar dentro de uma nave espacial. Seven Swans foi a faixa escolhida para abrir as portas a um concerto memorável. Três pares de asas brancas a esvoaçarem e a encherem uma sala que se adivinhava pouco lotada. A excentricidade estava marcada no rosto de cada um: aquilo que vimos não eram pinturas de guerra – não, isso não! – eram apenas cores berrantes a prenunciarem canções de amor do apocalipse, todo o universo diante dos nossos olhos e alguns profetas a descerem à terra. Confesso, a partir daí julguei-me dentro de um filme com personagens geniais vindas de outros planetas. Tudo por uma boa causa. Somos filhos das estrelas e convivemos em harmonia até à próxima música. E o alinhamento foi tão brilhante quanto as luzes que nos iluminavam. Se os mais cépticos até estavam de costas voltadas para o último disco de SufjanAge Of Adz – nessa noite não conseguimos ignorar a mestria na execução de cada música e o conceito inovador que esteve por detrás desse trabalho mal compreendido. O artista fez questão de explicar tudo ao pormenor. Imagem, som, performance e atitude foram conjugados de forma exemplar e nós – tão humanos e frágeis e intensos que somos – pagámos viagem em direcção ao desconhecido. Porque por mais que nos impressione a veia romancista de um Sufjan tímido e original ninguém se prepara convenientemente para um debate sobre questões existenciais e profundas que trazem à flor da pele todos os mistérios da criação. E o norte-americano falou, soube entreter, riu e emocionou na dose certa, fez o que quis e fê-lo bem tendo em conta a reacção acesa do público. Diga-se em abono da verdade: é impossível não gostar deste Sufjan Stevens a cada dia renascido, mais feliz na sua pele, menos preocupado com o peso dos anos. A alegria personalizou-se em fatos fluorescentes, confettis, danças em cima das colunas – em comunhão com a plateia - e plumas agitadas. O encore também surpreendeu.
Sufjan surge despido da sua personagem extraterrestre e senta-se ao piano com a simplicidade habitual. E então é como se um cometa tivesse passado acima das nossas cabeças e alguém tivesse tido a coragem de pedir um desejo: depois da euforia dançante de Impossible Soul que soou interminável e arrancou os pés do chão de muito boa gente mergulhámos na emoção de Concerning the UFO Near Highland, Illinois que veio apaziguar os corações mais nostálgicos, logo seguida da tão esperada John Wayne Gacy, Jr.. Ainda não estávamos totalmente recompostos quando reconhecemos imediatamente aquela que é uma das suas músicas mais emblemáticas: Chicago, de seu nome. E até o perdoamos por não ter levado avante o projecto de escrever um disco por cada estado norte-americano. Isto porque de repente começam a chover balões de todos os feitios e tamanhos e somos inundados por uma súbita alegria: já não estamos dentro de uma nave especial, ninguém reparou mas isto agora é um recreio e só apetece saltar e atirar os braços a ver quem chega mais longe. E não é preciso dizer mais nada: se Sufjan Stevens consegue transcender-se desta maneira através da música nós só temos de agradecer sem fazer muitas perguntas. Celebrações destas não acontecem todos os dias, pois não? Só quando o artista é um grande artista, dizemos nós.

Alinhamento:
Seven Swans
Too Much
Age of Adz
The One I Love (R.E.M.)
Now That I'm Older
I Walked
Sister
Get Real Get Right
Vesuvius
I Want To Be Well
Futile Devices
Impossible Soul
~ENCORE~
Concerning the UFO Near Highland, Illinois
John Wayne Gacy, Jr.
Chicago

Voltar ao início


Fotografia (Coliseu dos Recreios): Rodrigo Vargas
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Eveything is New
Músico: Sufjan Steven
Local: Coliseu Porto, Porto
Data: 30 Maio de 2011
Myspace Oficial do Músico: http://www.myspace.com/sufjansteven

2 comentários:

Nuno disse...

xalente texto

Pedro disse...

Vi-o em Lisboa.. mas a sensação foi muito semelhante e foi sem dúvida um dos melhores concertos onde tive até hoje. Parabéns pelo texto está muito bom!

Enviar um comentário