[REPORTAGEM]: Swans | Casa da Música | 10 de Abril de 2011



Verdade seja dita: assim de repente, quem pensa em Swans não está propriamente à espera de uma primeira parte tão apaziguadora, preenchida apenas com duas guitarras acústicas e uma voz de anjo a fazer lembrar pastilhas elásticas com sabor a morango, margaridas esvoaçantes e gelados ao final do dia.

Mas foi isso mesmo que aconteceu. Powerdove, o projecto da britânica Annie Lewandowsky deu as boas-vindas aos fãs de Michael Gira e despiu a sala ao embalar os ouvidos mais sensíveis numa boa meia hora de canções melodiosas, estranhamente adolescentes e românticas.

Ainda assim, foi um aperitivo levezinho para os que já se contorciam nas cadeiras à espera do apocalipse. E ele chegou, encarnado num cowboy tumultuoso que exigiu o público cada vez mais perto do fim do mundo mas cuja súplica foi negada logo à partida: os seguranças da Casa da Música não deixaram vencer os caprichos dos cisnes negros. Em poucos minutos todos estavam de volta ao seu lugar, sentados. E o concerto arrancou com um inacreditável feedback de guitarra que durou tempos infinitos: isto sim, é Swans.
A banda foi chegando a conta-gotas, transformando o ruído numa aura negra absolutamente avassaladora. Aos primeiros instantes, o recado foi-nos dado sem dó nem piedade, ficamos a saber ao que íamos e ninguém poderia sair dali são e salvo sem antes mergulhar na escuridão. A intensidade foi de tal maneira sentida que a cada investida na bateria o coração parecia que saltava fora do peito. Houve quem se agachasse nas cadeiras por não acreditar no que via; quem – feito crédulo - delirasse com a actuação do colectivo: aquilo foram sininhos magistralmente tocados a martelo, foi uma percussão tão precisa e desgastante que pensámos não mais ser possível tamanha força nas baquetas, foi um baixo a rasgar paredes e veias e foi, acima de tudo, um Deus das trevas a oferecer um transe hipnótico a quem lá estava; houve quem simplesmente chorasse com o magnetismo de Michael Gira.

Até ao final – e numa viagem de duas horas sem regresso - fomos virados do avesso, presenciamos do impacto que é ser-se agressivo e, ao mesmo tempo, portador de uma beleza aditiva difícil de explicar. Só quem ama os Swans consegue sair dali a respirar convenientemente depois de uma provação deste calibre. A destruição não é para todos.

Alinhamento:
No Words/No Thoughts
Jim
Sex, God, Sex
The Apostate
I Crawled
Avatar
Eden Prison
-Encore-
Little Mouth

Powerdove



NOTA: Devido a restrições por parte da Casa da Música, não foram reunidas as condições necessárias para a realização da reportagem fotográfica.

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Fotos: Ricardo Silva
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Everything is New
Grupo: Swans
Local: Casa da Música, Porto
Data: 10 de Abril de 2011
Site Oficial do grupo: www.swans.pair.com

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