[NOTÍCIAS]: Vitor Ramil no Grande Auditório da Culturgest



No próximo dia 4 de Abril, segunda-feira, às 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, terá lugar o concerto de apresentação de délibáb, o novo espectáculo de Vitor Ramil baseado no seu último álbum.

Vitor Ramil é um dos mais conceituados compositores, cantores e escritores brasileiros, que começou a sua longa carreira ainda adolescente no início dos anos 80. Desde então, editou 9 álbuns – entre os quais Ramilonga, Longes e o multi-premiado Santolep Sambatown – e 3 livros.
Em délibáb, Ramil reúne milongas que compôs a partir de poemas do argentino Jorge Luis Borges, publicadas originalmente no livro "Para las seis cuerdas", e dos versos do brasileiro João da Cunha Vargas, registadas, na voz do poeta, em cassete e posteriormente publicadas no seu único livro " Deixando o pago".
délibáb foi considerado um dos "10 Melhores Shows de 2010" por O Globo, do Rio de Janeiro e pela Folha de São Paulo, e um dos Melhores Discos do ano pela revista brasileira Veja e pelos órgãos de comunicação argentinos Diario La Nación, e Revista Ñ do Diario Clarín.
Os bilhetes têm o preço de 15 Euros; para jovens até aos 30 anos têm um preço único de 5 Euros.

Vitor Ramil explica délibáb desta forma:

“Gravar as milongas que havia composto para os versos de Jorge Luis Borges e de João da Cunha Vargas seria documentar uma projeção de imagens remotas, de arrabaldes buenairenses e ambientes campeiros, na urbanidade de nossos tempos atuais; seria registar minha visão do que já fora visto por outros em outra parte.
Cenas distantes, espelhismo, nitidez, horizonte, planícies. Com tantas sugestões, não demorei a achar que a palavra húngara délibáb poderia dar nome a este trabalho. Além disso, havia o jogo borgeano de ser um vocábulo de uma cultura antiga e longínqua com ares de palavra inventada.
A decisão de que délibáb seria o nome do disco só aconteceria depois que eu incorporasse uma das paixões borgeanas e partisse para o estudo etimológico. Foi quando descobri que délibáb, cujo significado é “miragem”, vem de déli (do sul) + báb (de bába: ilusão). Como não ficar maravilhado diante daquela “ilusão do sul”, ainda que fosse só uma miragem?
Os versos de Borges são pródigos em cuchillos (facas), peleias, sangue e mortes. Colocá-los lado a lado com os versos de Vargas faz com que se sobressaiam nesses a doçura, a amorosidade e a melancolia, ainda que apresentem também cenas de valentia e de violência. Isso me faz pensar na diferenciação que faz Barbosa Lessa entre espanhóis e portugueses no período de formação do Rio Grande do Sul: «Mesmo que ainda não tenham sido fixadas as fronteiras políticas, as fronteiras culturais já estão determinando onde mora o espanhol, com seu culto às chagas de Cristo, ao martírio dos cravos e espinhos, à dor do luto e à atracção da morte, e onde mora o lusitano, com seu ingénuo lirismo, cultuando o Menino Deus ou São João com o cordeirinho nos braços.»
Elegi a milonga como referencial para a busca de uma estética do frio (ou, em outras palavras, de uma expressão artística sul-brasileira que recusasse os estereótipos, tanto sulistas como brasileiros) por reconhecer nela um poder de desnudamento, de nos colocar em contato com o íntimo ou o essencial. Pensando na ideia de “frio” como valor estético, não apenas como elemento climático que referencia o Sul brasileiro, identifiquei na milonga, tão popular entre nós, gaúchos, valores estéticos que a tornavam a música do frio por excelência: rigor, profundidade, clareza, concisão, pureza, leveza e melancolia.
As marcas autorais de Borges e Vargas são tão fortes que minhas músicas mudam nitidamente quando vou de um para o outro. Basicamente essas milongas correspondem àquela diferenciação entre portugueses e espanhóis proposta por Barbosa Lessa, mas as vozes dos poetas, individualmente, falam de forma irresistível através de mim. As milongas para os versos de Borges são em geral mais clássicas, épicas ou rítmicas, sempre fiéis à afinação tradicional do violão; as milongas com Vargas são mais próximas da canção brasileira, mais líricas e sentimentais, fluem como se aspirassem ao impressionismo das afinações preparadas.”






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