Deolinda | Coliseu do Porto | 23 Janeiro 2011



Os Deolinda voltaram ontem pela segunda vez ao Coliseu do Porto, depois de terem esgotado a sala na noite anterior. O motivo? A curiosidade de ver ao vivo as músicas do seu segundo álbum Dois Selos e Um Carimbo.
O cenário não foi diferente: encontramos uma plateia heterogénea, famílias inteiras começaram a chegar desde cedo e, mal as luzes se apagaram, um enorme aplauso abafou o Coliseu. A cortina abriu-se e Ana Bacalhau surge com um vestido branco muito peculiar e uma capa revestida com recortes de jornais.

"Esta festa vai agora começar!" O desafio foi lançado em tom de provocação e o público respondeu em força. No palco apenas um ecrã e um palanque onde se encontravam os restantes elementos da banda, enquanto o microfone gingava e a acompanhava para todo o lado. A descontracção foi palavra de ordem desde o início: a cada música era feita uma pequena introdução e – em momento oportuno – os músicos convidados foram apresentados. A magia chegou a cena quando na parede começaram a nascer nenúfares mergulhados num charco lilás: "sou a mariposa bela e airosa que pinta o mundo de cor-de-rosa". Visivelmente emocionado, o público conseguiu serenar para logo a seguir se agitar nas cadeiras e bater os pés - um contra o outro. Também algumas crianças se levantavam e dançavam aqui e ali sempre que o ritmo as contagiava. No ecrã gigante choviam manjericos, acendiam-se candeeiros, as bolas de futebol giravam freneticamente e os melros sossegados escondiam-se nos parapeitos da janela, conforme a disposição das músicas. As letras estavam na ponta da língua e Fado Toninho foi um pequeno exemplo disso.
Várias vezes a banda parou para ouvir as vozes com pronúncia do Norte e o silêncio só dominou quando as luzes azuis invadiram o palco e Ana Bacalhau apelou ao sentimento. Clandestino, disse ela. E bastou para arrepiar os mais sensíveis. Entre a alegria efusiva e a melancolia latente, os Deolinda souberam sempre equilibrar o espectáculo: alguns êxitos mais antigos foram trazidos a lume especialmente a pedido de algumas pessoas. Houve até tempo para revelarem uma novidade, uma música tocada pela primeira vez no Coliseu do Porto, isto a propósito dos tempos difíceis que se vivem no país. "Pediram-nos para reflectir o dia todo, não foi? Que parva que eu sou!"

A banda regressou várias vezes ao palco, sinal do carinho sentido ao longo dos anos por parte do público, tornando a agradecer a toda equipa de produção, colaboradores e técnicos. "Falta alguém? Pois é, faltam vocês!" O ambiente era de festa e, em dia de eleições, despediram-se ao som de Movimento Perpétuo Associativo. Toda a gente aplaudiu de pé enquanto desciam do palco e se enfiavam no meio da multidão. Papéis coloridos esvoaçaram à sua passagem e foi assim que a banda de Lisboa se despediu do Porto: com a simpatia a que já nos habituou. Havia de ser bonito! E foi.


Alinhamento:
Não tenho mais razões
Contado ninguém acredita
Patinho de borracha
Passou por mim e sorriu
Sem noção
Um contra o outro
Mal por mal
Ignaras Vedetas
Instrumental
Canção da tal guitarra
O fado não é mau
Eu tenho um melro
Fado Toninho
Fado castigo
Ai rapaz
Canção ao lado
Há dias que não são dias
Clandestino
Quando janto em restaurantes
Fon Fon Fon
A problemática colocação de um mastro
~EncoreI~
Garçonete da casa de fado
Fungágá da bicharada
~EncoreII~
Que parva que eu sou
Movimento perpétuo associativo


























Voltar ao início


Fotos: Ricardo Silva
Texto: Vanessa Silva
Agradecimentos: Sons em Trânsito
Banda: Deolinda
Local: Coliseu Porto, Porto
Data: 23 Janeiro 2011
Site Oficial da banda: www.deolinda.com.pt

0 comentários:

Enviar um comentário