[REPORTAGEM]: You Can't Win, Charlie Brown | Lux | 12 de outubro de 2012



Na passada noite de 12 de outubro, no Lux, estiveram os The Velvet Underground para apresentar o seu disco homónimo...

Para o disco. Não estamos em 1967, mas em 2012, e quem sobe ao palco não é a banda de Lou Reed, John Cale e Nico, mas os You Can’t Win, Charlie Brown. Com um semblante discreto, Afonso Cabral, Salvador Menezes, Luís Costa, Tomás Sousa, João Gil e David Santos põem-se a postos num palco adornado por bananas em cima dos amplificadores e balões negros em forma de estrela. A desafio lançado por Pedro Ramos, da Rádio Radar e presença assídua na casa lisboeta, a banda preparou-se durante uma semana [e tal] para executar o álbum de estreia do grupo de Nova Iorque. O objetivo seria conferir um toque “Charlie Brown” aos temas revolucionários do disco, que apesar de não conferirem um sucesso imediato após o seu lançamento, foi através do olhar crítico muito fora do hype e de todos os entusiasmos aliados à novidade que se transformou num ícone do experimentalismo e dos trabalhos mais influentes do Rock’n’Roll.

A ideia é seguir a ordem do álbum, e assim o fazem, perante um público que apesar de não serem apenas fãs de Velvet Underground, eram maioritariamente amigos e admiradores desta banda que nasceu em 2009. Ainda assim, há alguém que exclama: “São muitos!” A canção "Sunday Morning" começa com semblante carregado e o bater da madeira da guitarra acústica, para marcar o compasso de uma canção que nos transporta para um tempo em que a música tinha os sonhos, ou um estado de espírito etéreo, como destino predefinido. Não é canção que leve o público a grande entusiasmo, mas deixa alguns a baloiçar os braços e a inclinar a cabeça, mesmo quando são as unhas que arranham as cordas da guitarra.

Tocam "I’m Waiting for the Man", "Femme Fatale" e "Venus in Furs", troca após troca de posições e instrumentos, demonstrando aquilo que se viria a confirmar durante o resto da hora [e mais alguns bons minutos]: a versatilidade, quer na adaptação de um álbum agora mítico em algo extremamente pessoal, quer na execução dessa mesma. É também de fácil adaptação como o ritmo dos temas muda, mas esse é apenas o “mal menor” que a banda teria de enfrentar, já que por entre o sinuoso caminho do rock psicadélico e letras de sadomasoquismo e consumo de drogas, é difícil dar um cariz muito longe dos anos 60 e torná-lo em algo tão inerente e profundo quanto o era nesses anos.

Mas os You Can’t Win, Charlie Brown, já tiveram um público exigente em mãos [não obstante a capacidade crítica da audiência que lá estava, diga-se] ao nível internacional, pelo que conseguem transmitir a sua própria personalidade sem violar o legado de Lou Reed & Co com êxito. Por entre "Venus in Furs" e "Run Run Run" as vozes são mais sussurradas, o ambiente um pouco mais sombrio, em oposição ao caleidoscópio que lembra os Velvet, mas quando a voz de Afonso Cabral se abre, não desilude [e o grande obstáculo de tentar de alguma forma substituir a voz da chanteuse Nico, foi completamente ultrapassado]. A bateria, essa talvez seja o instrumento que mais chega ao cerne da questão da letra e dos acordes idílicos da guitarra, mostrando a sua verdadeira crueza e o peso ao ressoar com as vozes, que se mantém suaves.

Não que seja fácil. A transformação dos instrumentos e a utilização de métodos invulgares poderá ser o pão nosso de cada dia daqueles que habitualmente se passeiam pela praça do experimentalismo. Mas essa é uma praça algo restrita, não pelo seu cariz elitista mas por ter uma calçada pior que o paralelepípedo das ruas antigas, difícil de executar sem tropeçar. A utilização de uma baqueta nas cordas da guitarra mostra atenção ao detalhe, o brio para que o primeiro trabalho de transformar o invulgar em algo carismático não tenha sido esquecido. Em "European Son", os arranjos minimalistas mantém-nos numa planície de tranquilidade, apenas para cairmos num precipício onde as guitarras não se cansam. O abandono é o mesmo, esbaforido e tanto ou quanto desesperado. Alguns tocam com a língua de fora em cima do palco: é difícil, mas dão a conta do recado. Muitos apercebem-se que o resultado é positivo, tanto no palco como por entre o público, e por isso, quando conseguem, riem-se entre si. E com motivos para isso, por isso é que ainda o público lá ficou, [apesar da brincadeira do “Estávamos à espera que isto estivesse mais cheio!”] e esperou por um encore, tema mesmo dos YCWCB. Mesmo sem ensaios recentes, entregou. E bem. Agora passemos ao próximo desafio.

Alinhamento:
Sunday Morning
I'm Waiting for the Man
Femme Fatale
Venus in Furs
Run Run Run
All Tomorrow's Parties
Heroin
There She Goes Again
I'll Be Your Mirror
The Black Angel's Death Song
European Son
~ENCORE~
Over The Sun / Under the Water

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Texto: Carolina Rocha
Agradecimento: Let's Start a Fire
Banda: You Can't Win, Charlie Brown
Local: Lux, Lisboa
Data: 12 de outubro de 2012

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