No passado dia 26 de outubro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, os Paus, juntos entre si, juntos com um Grande Auditório bem preenchido, celebraram o seu primeiro aniversário do primeiro álbum, homónimo, e o lançamento de um novo EP «Estamos Juntos».
Considerada como uma das bandas com maior impacto e alcance mediático no panorama musical atual do país, fazem parte de uma geração que tem, acima de tudo, mostrado o que tem a dar maioritariamente em duas vertentes: em sessões mais intimistas em pequenas [ou vá, diga-se, médias] salas de espetáculos, ou em concertos associados a festivais, já que grande parte dos grandes auditórios nacionais está ainda reservada a grupos internacionais ou de maior tradição portuguesa. Não que não seja justificado pela preferência e afluência do público português em geral.
Paus, com uma juventude que ainda falta conquistar o mainstream total para marcar presença em coliseus, e a sua forte essência colocada na bateria siamesa partilhada por Joaquim Albergaria e Hélio Morais, estreita as opções do grupo na sua performance, não muito dada a sessões acústicas, pelo que tem apostado em concertos onde o espetro auditivo seja maior, mais livre. A performance ao vivo do grupo tem sido alvo de ótimas críticas aquando do contexto festivaleiro, e foi por isso que o anúncio do concerto numa das salas mais carismáticas de Lisboa trazia consigo uma grande expectativa. Para além da pergunta sobre a receção à potência sonora do grupo naquela sala, os lugares sentados que a compõem somam-se ao desafio. Sem o desaforo do ambiente de festival, sem atuação de abertura, a banda mostrou que só [e bem acompanhada] por si mesma é capaz de encher o ar com a sua sonoridade, fazendo com que os detalhes em cada ritmo e cada subtileza eletrónica ou de cordas fosse ouvida com mais definição.
Ao começar com a intimista “Descruzada”, nota-se a grande diferença entre o alcance de Paus no álbum, na rua, e num recinto fechado. O amplificador de Makoto Yagyu deveria ter as suas definições todas ligadas até ao número 11, servindo de compasso companheiro à bateria, esse instrumento que serve como eixo do grupo. João “Shela” Pereira tem um à vontade atrás do sintetizador que muitos poucos músicos têm, e mais do que isso, demonstra um sentido de ritmo invulgar ao acompanhar sem hesitações dois patifes a martelar na pele tão desenfreadamente. “Tronco Nú”, em seguida, apresenta-se para demonstrar o quão importante é a cerebralidade por detrás da paixão e do instinto. Enquanto que Albergaria e Morais continuam numa hipnotizante dança de braços, pés, baquetas e cabeças viradas para lados opostos com suor, sangue e lágrimas, Yagyu e Shela, embora também embrenhados, mantêm a marioneta em pé, e vestem-na de forma diferente e única para cada ato.
É chamado ao palco outro nome bem conhecido por aqueles lá presentes. Os You Can’t Win, Charlie Brown, com quem partilharam o palco desde junho, juntam-se na celebração do aniversário para tocar o carismático “Deixa-me Ser” e o estreante “Carlos”, mostrando uma capacidade de simbiose impressionante naquela que poderia ser, se nos permitirmos a fantasiar, aquilo que se chama “super banda”.
O fumo paira sobre a multidão quando as luzes, - que ao longo de cada canção estabelecem um espetáculo só por si, embora não aconselhável àqueles com tendência para a epilepsia – incidem sobre o público, como se se esbatesse uma tempestade de areia pela plateia, eclipsando o palco. Ali, só quando essas se acendem para intervalar os temas seguintes [“Muito Mais Gente” e “Mudo e Surdo”] é que a audiência se lembra que há muito mais espaço e ar entre eles e o quarteto em palco do que apenas a sonoridade que este transmite e oferece.
É com a entrada de Fábio Jevelim, dos Riding Pânico e acompanhante recente do grupo, que pega na guitarra e dá o sinal para começar outra canção estreante: “Cinema Lido”, com tonalidades mais rock’n’roll que o usual, mas adequando-se completamente devido ao desvio quase industrial atingido pela potência do arranhar do baixo.
É “Pelo Pulso” que marca o ponto final do concerto, o final de um ano e o início de outro, com o lançamento de «Estamos Juntos». É exatamente essa mensagem que Paus quiseram transmitir, do início ao fim, lançando sempre que não estariam ali sem a ajuda daqueles que não aguentaram a confinação de movimentos e se levantaram das cadeiras, mais do que uma vez. Paus poderão, por vezes, ter mais olhos que barriga: as vocais, embora tenham aquele aspeto mais intimista por estarem embargadas pela emoção e pelo esforço, pecam na interrupção da corrente inquebrável dos instrumentos por se destacarem em vez de assimilarem; e na próxima vez, muitos não se esquecerão de levar algum tipo de proteção para os ouvidos. Mas no fundo, a união entre algo siamês, algo que não o é, mas complementa-o de igual modo, e algo que é apenas a força e o encorajamento para dar o litro, é talvez o que conte mais. E os Paus, de dar o litro, estão completamente partidos, mas fazem-no bem.
Texto: Carolina Rocha
Agradecimento: ArtHouse
Banda: Paus
Local: CCB, Lisboa
Data: 26 de outubro de 2012
0 comentários:
Enviar um comentário